Para um país que não tem uma tradição cinematográfica definida, o longa paraguaio da dupla Meneglia e Schembori é, sem dúvida, uma pérola, destas que você, cinéfilo, não pode perder. Claramente influenciado pelo estilo pop do cinemão hollywoodiano, o filme, assim como os diretores, tem consciência de seus limites, mas compensa a falta de recursos financeiros com um roteiro enxuto e cheio de reviravoltas, edição acelerada, atuações convincentes e ritmo dinâmico, sem dar tempo ao público de respirar. Com a câmera na mão ou em steady (colocada no peito dos atores durante a ação), os diretores criaram o que podemos chamar de o Corra, Lola, Corra latino-americano. Victor é um jovem carreteiro de 17 anos que trabalha como carregador no Mercado 4, um misto de feira livre e camelódromo, que fica bem no centro de Assunção, onde carrega compras para os clientes em troca de uns trocados. Victor sonha em comprar um celular de última geração onde possa gravar vídeos, como os heróis dos filmes de ação que ele tanto admira. Para isso ele aceita uma proposta meio incomum para levar para fora do mercado sete caixas cujo conteúdo ele nem imagina o que é.
Metade do pagamento lhe é feito na hora (uma sacada sensacional e direta homenagem a Tarantino), a outra metade do dinheiro só receberá quando concluir a tarefa. Sem imaginar, Victor acaba se envolvendo em uma perigosa e violenta trama com perseguições, assassinatos, roubos e correria, muita correria. O supra-sumo é a cena em que os carreteiros promovem um verdadeiro rally dentro do mercado, provando de uma vez por todas que não precisa de milhões de dólares e carros tunados para serem velozes e furiosos. Um filme sensacional e imperdível, que colocou definitivamente o Paraguai na rota dos remakes hollywoodianos, assim como já havia acontecido dois anos atrás com o terror uruguaio A Casa, outra obra surpreendente feita pelos nossos vizinhos.