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Katia G.
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3,5
Enviada em 18 de junho de 2014
Eu me concentrei no nome do filme: "Anos Felizes". O filme vai narrar uma pequena parte da vida do filho mais velho do casal no ano de 1974, na Itália. O protagonista mirim é o proprio que narra a sua história com voz em off. E aquela parte da sua vida é tudo, menos que feliz, ele até tenta o suicidio. Então, me questionei, porque "Anos Felizes"? Porque com todos os problemas que ele via a sua volta: o pai infiel, a mãe ciumenta e possessiva, o problema do casal para se manter unido, e tudo o mais, ele define aquele periodo como Anos Felizes. A resposta é: a mitificação que fazemos todos nós da nossa infância. Quando tentamos narrar nossa infância vamos acionar os fatos armazenados na memoria, e portanto impregnados e misturados com a nossa fantasia e subvertido pela nossa memoria afetiva. Portanto o que narramos, e a forma como revivemos os fatos passados não são mais os mesmos fatos, mas sim uma recriação da nossa memoria subornada pela afetividade. Praticamente todos nós remetemos a nossa infância ao nível do mito, transformando a nossa historia em algo quase sobrenatural e religioso. Quando revivemos a nossa infância, normalmente tendemos a sentir como um perda no presente. Uma nostalgia de algo que perdemos lá no passado. Quando revivemos o passado não estamos tentando resgatar uma época, estamos tentando resgatar a nós mesmos. Aquele que ficou no passado, aquele que éramos e que por forças das circunstancias e do destino fomos obrigados a abdicar e reprimir. Quando olhamos para a nossa infância estamos tentando recompor a nós mesmos olhando pra dentro e buscando as peças que faltam, ou melhor as partes que deixamos pra trás, sem ao menos perceber a perda. O filme não é nostálgico, pelo contrário, o diretor tenta fazer o retrato de numa época histórica e tem até um leve toque de humor. O que me intrigou foi o aparente paradoxo do nome com o conteúdo do filme.
Retrata uma época de grandes esperanças de realização coletiva e individual, de questionamento aberto das convenções, de inconformismo militante. Em 1974, um casal oriundo de famílias bem diferentes - ele, artista filho de comunistas, ela, dona de casa filha de burgueses bonachões - enfrenta os riscos da experimentação no campo da contra-cultura. Não se trata mais da geração da militância política, mas da libertação cultural e da ânsia por experimentação. O clima social é de avanço de direitos sociais, pleno emprego e segurança econômica para experimentar, sabemos. O casamento se despedaça à medida que ela se envolve com o movimento feminista spoiler: e se apaixona por outra mulher , rejeitando manter um casamento em meio à multiplicidade de amores como ele gostaria, como fazia e como era típico dos homens italianos de então. Os filhos sentem o individualismo dos pais, mas levam a vida em anos felizes. No final, sugere-se o conformismo da geração dos filhos da contra-cultura, uma vez que o filho é o primeiro da família de comunistas a vender algo (no dizer de sua vó): as cenas de alegria infantil gravadas em uma super 8 da Canon. Poético e inteligente, inquietante mas feliz, sem ser melancólico. Para quem viveu o período embora em outro país, um passado recente mas muito distante, de um outro mundo, provavelmente mais feliz.
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