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    Nove Crônicas para um Coração aos Berros
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Nove Crônicas para um Coração aos Berros

    Na penumbra

    por Francisco Russo

    Filmes corais têm algumas características bastante peculiares: trazem uma boa quantidade de personagens que, de alguma forma, acabam se relacionando – uns mais, outros menos –, apresenta uma série de histórias paralelas e, em alguns casos, não têm um grande clímax. Nove Crônicas para um Coração aos Berros segue à risca estas características, o que não significa que seja bom. Por mais que o diretor Gustavo Galvão siga as regras tão bem utilizadas por Robert Altman em filmes como Short Cuts - Cenas da Vida e Nashville, este longa-metragem de título poético carece do essencial para filmes neste estilo: uma boa história. Ou melhor, várias boas histórias.

    Na verdade, a proposta do filme é tão abstrata que chega a ser difícil identificá-la. A ideia do diretor (e também roteirista) era que cada grupo de personagens tivesse a oportunidade de refletir em cena a angústia e o sofrimento, cada um ao seu jeito a partir de variadas situações. O problema: se não fosse pelo título, explícito neste sentido, esta intenção facilmente passaria batida pelo espectador. Tudo porque várias das historietas exibidas refletem apenas momentos do personagem em questão, em alguns casos mal gerando algum acontecimento, o que levanta questionamentos sobre qual o rumo (e o sentido) da história. A gratuidade do exibido na telona é tamanha que a sensação que o filme transmite é de mero vazio: de proposta, de história, nada.

    Apesar disto, há aqui e ali alguns momentos que de vez em quando chamam a atenção. Como o desespero da prostituta interpretada por Simone Spoladore em deixar a situação em que vive ou a reclamação de um mendigo sobre ter recebido uma esmola alta demais – uma situação tão insólita que lembra até os filmes mais radicais de Sergio Bianchi, sem sua acidez característica. Entretanto, ainda estes raros momentos são muito prejudicados pelos problemas técnicos do filme. A fotografia, escura demais, faz com que os personagens estejam quase sempre numa penumbra que, em certos casos, dificulta até mesmo sua identificação visual – é o caso da própria Simone, sempre aprisionada em um quarto que já tem pouca luz por natureza. Com isso, alguns atores são identificados apenas pela própria voz ou nos créditos finais, quando seus nomes surgem em cena.

    Diante de tantos problemas, Nove Crônicas para um Coração aos Berros acaba sendo apenas um malsucedido exercício de formato, onde o diretor aplica as regras de um típico filme-coral sem entregar ao espectador algo minimamente interessante. Tedioso.

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