TÍTULO: Bem Vindo à Comédia Nacional.
As comédias brasileiras são cada vez mais constantes no cinema. O sucesso de público que elas promovem no atual cenário do box office das grandes capitais é assombroso. Essa realidade é, sem dúvida, muito positiva. Entretanto, deve-se sempre questionar quando algo é unânime por muito tempo. Temos observado filmes cuja preocupação é contar a piada, não importando como e de que forma ela seja demonstrada ao público. Isto é, pouco dos processos relacionados ao cinema importa, mas sim, o lucro que os risos promovem. O Concurso, primeiro longa do diretor Pedro Vasconcelos, foge a tal essência e introduz, não uma piada, mas um grande filme de comédia.
A produção tem grande valor artístico e esse é, provavelmente, um de seus mais importantes diferenciais. A caracterização dos quatro personagens em foco, interpretados por Danton Mello, Fabio Porchat, Rodrigo Pandolfo e Anderson Di Rizzi, respectivamente, o carioca malandro, o gaúcho enrustido, o "caipira" inocente e o nordestino sonhador são icônicos na cultura brasileira, assim como o enredo desejado por milhões, que é passar no concurso de juiz federal, e estão excelentemente representados na atuação dos mencionados. Essa formação dos personagens em si já é um elemento cômico que não se vê nos filmes mais "escrachados" da atualidade.
Já era sabido que o maior triunfo de Pedro Vasconcelos era a direção de atores, e acredita-se que essa qualidade seja uma das mais gritantes positivamente dentre todos os filmes do cinema brasileiro nesse ano de 2013. Principalmente quando se trabalha com arquétipos que poderiam ser caricatos e exagerados, mas não em O Concurso. Os personagens caminham levemente de forma bem natural pelas situações grotescas vividas e, tanto as situações quanto a presença dos personagens são altamente agradáveis. E, para os pouco entendidos, isso é comédia. De grande e boa qualidade.
Não vamos aqui desviar de alguns percalços. Há, como se é afirmado, alguns clichês comuns e algumas piadas cujo tempo ficou impreciso e até mesmo a compreensão e o conteúdo ficaram confusos. Em alguns momentos o espectador ficou esperando o clímax da cena que acabou não vindo. De fato, houve lacunas, mas nenhuma inquebrável.
No entanto, inferir, como visto em algumas críticas, a falta de verossimilhança, em algumas situações, como a piada escrita na introdução do filme ou na descaracterização dos traficantes, aliás, bem apresentado pelo talentoso Gigante Léo, fugindo ao modelo do anão-pastelão e mostrando valor como ator e comediante, não devem ser bem encaradas visto a posição satírica das duas colocações.
O roteiro é bom e inteligente, e se torna um pouco acelerado ao final, mas nada que comprometa. As cenas de piadas mais sexuais não são ofensivas e são bem distribuídas, como uma química despretensiosa, porém acertada entre Pandolfo e Sabrina Sato, que estréia no cinema, cumprindo seu papel de agradar comicamente.
O humor ligado ao homossexualismo não é desagradável, comprovando o talento fascinante de Porchat como, fundamentalmente, ator. O final, com um toque moralista também caiu bem, sem nenhuma “barra forçada” ou fora do contexto, premiando o bom e fiel brasileiro à justiça que, quase não lhe ocorre.
Enfim, a produção é original, bem feita e bastante agradável de assistir, não somente pelas piadas, ou pelo riso fácil, mas pela graça da relação entre os atores e suas personagens. Precisamos começar a perceber outras funções relacionadas às comédias. O Concurso não cumpre esse “modelinho básico” e, por isso, é muito bem vindo.