Colorindo de cinza.
Já se tornou natural do cinema americano regravar obras de outros países simplesmente para aproveitar a visão artística de um diretor renomado ou mesmo render boas cifras para os bolsos dos altos executivos. O grande problema disso é que algumas boas idéias são inferiorizadas pela necessidade de adaptar aos interesses regionais, principalmente cultura. No caso de Kite, esse último aspecto prevaleceu.
Adaptado do anime A Kaito de 1998, Kite nos apresenta a jovem Sawa (India Eisley), que perdeu seus pais ainda muito nova e acabou ficando sob a tutela do policial Karl Aker (Samuel L. Jackson). Para lidar com seu passado e tentar superá-lo, a jovem faz uso de uma droga conhecida com AMP, que a faz esquecer de ocorridos distantes e cria a sensação de invencibilidade, permitindo que a protagonista dê cabo na gangue responsável pelo destino de seus progenitores.
Embora a sinopse inicial até apresente uma idéia promissora, que poderia passear pelo drama de lidar com o passado e as consequências do presente, o filme naufraga em diversas situações, a começar pela própria história. O enredo é desconexo de sentido, com muitos furos que fazem as ações de algumas pessoas, principalmente o agente Aker, sem razão, pois a contradição se mostra cada vez mais evidente pelos quase 90 min de duração. As parcas explicações da situação em que a cidade se encontra ou mesmo das origens dos personagens deixam a coisa ainda mais confusa, mal sabemos quem é quem, além de Sawa e Aker, evidentemente. Nem mesmo o que seria um frio e cruel vilão, o tal Amir, passa de um vagabundo sem graça. A história tem mania de "superlativar" determinadas pessoas e situações, isso frusta um pouco, pois dá a sensação de que o expectador é um idiota.
Falando do aspecto da ação, o diretor Ralph Ziman, que substituiu o finado David R. Ellis durante as filmagens, mostra pouco preparo nesse aspecto, pois as cenas são rápidas e abusam de violência gratuita, com mãos, peitos e cabeças estourando ou sendo decepadas. Claro que essa violência é oriunda do anime, mas lá fazia mais sentido. Talvez a única que soou relativamente interessante seja a do banheiro, na qual o uso de sequências de slow motion consigam contribuir para um resultado razoável.
Apesar dos pesares, o filme se salva na fotografia, pois o tom acinzentado das locações externas criam um elegante contraste com o visual da protagonista quando está em ação, pois as fortes cores dão um ar de glamour a Sawa, mostrando em evidência que ela é o centro das atenções, não pelas cores, mas por sua importância na estrutura da trama. O figuro e as locações ajudam a dar um toque apocalíptico ao filme que, por infelicidade, foi pouco aproveitado.
Kite é um filme que desperta curiosidade pelas imagens disponibilizadas e trailers, mas não rende o esperado dessa divulgação, talvez pela mudança abrupta na direção, mas não significa que deve ficar no limbo. É um título fora dos padrões, pouco ousado e nada inventivo, mas ainda sim assistível...