Birdman,o grande vencedor do Oscar 2015, não poderia ser um filme qualquer. Com críticas intensas a indústria cinematográfica, ao próprio público e a cultura atual, Birdman incentiva ao telespectador a ver o mundo do cinema de outra forma, sem glamour, sem encanto e sem magia.
Michael Keaton protagoniza Riggan Thomson, um ator que fez sucesso na década de 90 ao interpretar o herói Birdman, mas que, após recusar o papel para o terceiro filme, acaba caindo no esquecimento cinematográfico. Para tentar alavancar novamente sua curta carreira de ator de sucesso, Thomson decide roteirizar, dirigir e estrelar uma peça teatral para Broadway. Porém, o reconhecimento tão almejado, pode ser difícil de ser alcançado.
A sinopse parece se confundir com a carreira de alguns atros do cinema. A começar pelo próprio Michael Keaton. Para quem não se lembra, ele foi o Batman em 1989 e em 1992, ambos dirigidos pelo famoso Tim Burton. Apesar de nunca ter ficado de fora do cinema, sua participação como protagonista e até em filmes de destaque foi decaindo.
O diretor Alejandro González Iñárritu não economiza ao criticar os filmes de heróis ou os blockbusters, que hoje fazem parte do calendário atual do cinema. O público não se interessa mais por filmes com boas discussões, nas próprias palavras de Birdman "[...] eles querem sangue, explosões e ação." A crítica vai mais além. Os egos inflados, tão presentes nesse universo, também são alvos da análise do diretor. Ultimamente, parece que todos querem a fama, o reconhecimento, querem ser celebridades, lembrados por seus feitos, e buscam isso até o ultimo minuto de sua existência.
Além de uma boa discussão acerca da própria personalidade humana, "Birdman" tenta ser diferente até mesmo na sua trilha sonora ou no seu plano sequência. A trilha sonora é composta somente de uma bateria. Mas utilizada de uma maneira fantástica. Com uma sincronia incrível entre as emoções, sentimentos e as próprias ações dos personagens, podemos sentir um pouco do caos que é o relacionamento e a vida de Thomson. O plano sequência longo, contínuo sem cortes dão outra característica interessante ao filme. A câmera está sempre ali, acompanhando nossos personagens aonde quer que vão, tentando não perder cada detalhe da vida deles. Um experiência incrível pra quem realmente gosta de cinema.
Seria uma transgressão se não falássemos do elenco, afinal, Michael Keaton não está sozinho. Edward Norton (ex-Hulk) interpreta de forma magistral Mike Shiner, um ator famoso, com o ego um pouco inflado, de difícil temperamento, mas que pode salvar a peça de Thomson. Norton quase rouba a cena, mostrando que ainda está em plena forma, com uma atuação impecável. Emma Stone (ex- Gwen Stacy) é Sam Thomson a filha meio revoltada de Riggan. Seus diálogos com o pai são sempre ótimos, bem-humorados e alguns reflexivos. Stone parece a alguns passos do Oscar. Completando o elenco temos Naomi Watts que já emplacou diversos sucessos no cinema como "King Kong", "O Impossível", "Diana" e agora na "Série Divergente", encarna Lesley uma atriz que almeja o sucesso e o reconhecimento; Zach Galifianakis (o gordinho Alan Garner de "Se beber, não case") como Brandon, um advogado/empresário estressado que tenta dar sentido a vida de Thomson, apesar do papel pequeno, Galifianakis mostra que tem o dom da boa atuação.
"Birdman" é muito mais que um filme. É uma reflexão sobre o cinema atual, sobre a cultura, sobre a personalidade humana, sobre nossa constante busca de reconhecimento e nossa necessidade de ser reconhecido.
Por fim, entendo todo o filme como uma crítica do diretor ao cenário atual do cinema. Sendo uma opinião, podemos concordar ou discordar.
Na minha humilde opinião, vejo o cinema como uma forma de entretenimento. Os diferentes gêneros e possibilidades nos dá diferentes formas de entretenimento. "Birdman" é um filme mais introspectivo, um drama que ao final nos faz refletir e pensar. Os inúmeros filmes blockbusters como "Os Vingadores", "Velozes e Furiosos", "Jurassic Park" e outros que estão por vir, são filmes que tem o único e exclusivo objetivo de divertir seu público, e também não vejo mal nenhum nisso. São diferentes propósitos, e devem ser vistos como tal.
Acredito que o cinema tem espaço para todas essas discussões, para todos os gêneros e para todos os filmes. Se ele for bom, tiver roteiros coesos, trilhas sonoras fantásticas, cenários incríveis, efeitos surpreendentes e atuações impecáveis, e se, antes de tudo, fizer parte do universo do telespectador (pois não adianta nada você não gostar, por exemplo, de ficção científica e assistir "Interestelar", com certeza a sua opinião vai estar embasada na sua péssima experiência de assistir a um gênero que você não gosta) ele deve ser visto. Então, acho válido ir ao cinema sim ver "Vingadores", "Star Wars", "Mad Max" e todos os blockbusters que estão por vir, se for para te entreter, compre o ingresso, e tenha um bom filme.