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    O Duelo
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    O Duelo

    Uma ode à "gaiatice"

    por Renato Hermsdorff

    Diz o dito que “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Pois fruto da obra de Jorge Amado (“Os Velhos Marinheiros ou O Capitão-de-longo-curso”), o comandante Vasco Moscoso de Aragão (o ator português Joaquim de Almeida) teria pontos o suficiente para ir e voltar à Terrinha com sobra. Isso é o que quer provar Chico Pacheco (José Wilker, em um de seus últimos papéis).

    O capitão-de-longo-curso chega a vila de Periperi, em um litoral qualquer, cheio de histórias para contar. Enciumado, Chico, um morador local que, por ter um mínimo de erudição, é uma autoridade do lugarejo, sente sua influência ameaçada com a presença do forasteiro e reage fazendo de tudo para provar que os “causos” de Vasco não são histórias de marinheiro, e sim “de pescador”. “Malandro é o gato, que já nasce de bigode”.

    Esse é a trama central de O Duelo, que marca a volta de Marcos Jorge (do premiado Estômago) à direção. Ou, pelo menos, da primeira parte do filme, focada no embate que o título anuncia. Até aqui, Almeida e Wilker, confortáveis em seus papéis, dividem o protagonismo da história.

    Mas o romance no qual se baseia o filme é um texto longo. E aí entra o segundo momento, que tem como foco o passado de Vasco (é narrado em flashback). Nesse ponto participam, entre outros, Tainá Müller, como a musa inspiradora que tirou o navegador do curso do mar; Márcio Garcia, o bon vivant líder do grupo de gaiatos, como o “muso” inspirador do futuro “navegador”; Cláudia Raiacomo a dona do bordel/ madre superiora (não se esqueça de que estamos falando de duas versões para uma mesma história).

    E ainda há um terceiro ato, que retoma o fio narrativo presente, recolocando o velho lobo do mar de volta à rota marítima, no comando de um cruzeiro. É aqui que entram, por exemplo, Patrícia Pillar (uma mulher amargurada, um possível novo amor para Vasco, ela própria com seus segredos); e Sandro Rocha como subchefe do navio.

    Trata-se, portanto, de um filme longo que, com um elenco global afinado, mas sem nenhum destaque aparente, se sustenta na figura do protagonista vivido por Joaquim de Almeida. O roteiro dá conta de condensar de maneira convincente todas as histórias por trás dA história central, trazendo versões diferentes – muitas vezes, opostas – de um mesmo episódio. Essa justaposição é o que de mais divertido o filme traz.

    O diretor acerta ao evitar ao máximo o recurso da narração, traduzindo a narrativa em imagens – afinal, é de cinema que estamos falando – de forma criativa. Vasco começa a contar os seus “causos” para a pequena plateia de Periperi e, de repente, todo o cenário ao redor se transforma, e eles (e o espectador) são jogados para dentro da história.

    Mas o resultado é uma obra convencional que, paradoxalmente, porém, faz um bom uso de efeitos especiais, bem convincentes, fundamentais para dar conta das reviravoltas e acidentes (meteorológicos, inclusive) pelos quais o personagem passa, conduzindo o espectador para um final surpreendente. Afinal, depois da tempestade, sempre vem a bonança.

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