Há alguns anos, foi triste saber que o diretor J. J. Abrams estava se afastando da direção do terceiro Star Trek para enfim dirigir o retorno triunfante — diga-se de passagem — de Guerra das Estrelas aos cinemas na produção de Star Wars — O Despertar da Força (2015). Sendo assim, a Paramount e os produtores da franquia precisavam encontrar um novo diretor para dar continuidade às aventuras da Enterprise. O escolhido foi ninguém menos que Justin Li. Conhecido principalmente por dirigir quatro longas da franquia Velozes e Furiosos e ter iniciado o novo formato de filme de Ven Diesel e companhia, Li ficou a encargo de dirigir Star Trek — Sem Fronteiras. E antes de mais nada é preciso dizer: Sem Fronteiras é mais uma grande — e fascinante — surpresa para os fãs da franquia intergaláctica.
Justin Li, para o desinformado, foi quem dirigiu os fracos Velozes & Furiosos — Desafio em Tóquio (2006), Velozes & Furiosos 4 (2009), o inovador e estereotipado Velozes & Furiosos 5 — Operação Rio (2011), e o fascinante Velozes & Furiosos 6 (2013). E para quem não sabe o cineasta será responsável por Space Jam 2 (ainda sem data de lançamento prevista). Isso só comprova que como um bom diretor Li vem conquistando espaço em Hollywood. A pergunta que fica é: tendo poucos filmes com destaque em seu currículo, será que Li estaria apto para dirigir um Star Trek? Claro. Por que além de tudo Li é um bom diretor de blockbusters, o que Star Trek além de tudo é.
Star Trek de 2009 foi inovador, original e nostálgico. Além da Escuridão — Star Trek (2013) foi uma aventura sombria e de tirar o fôlego — e lágrimas. E o atual Star Trek — Sem Fronteiras é, metaforicamente falando, "um episódio de duração de duas horas da série clássica". Tem toda a nostalgia do filme de 2009 e o ritmo constante — e os erros — da continuação de 2013.
O Capitão James T. Kirk (Chris Pine) e tripulação da Enterprise estão no terceiro ano da missão de exploração do universo. Durante uma missão de resgate a tranquilidade da tripulação é abalada quando atraem Krall (Idris Elba), um tirano que ataca a Enterprise atrás de uma arma que a tripulação guarda. Agora separados em grupos num planeta desconhecido, Kirk tentará resgatar a sua tripulação ao mesmo tempo que tenta descobrir o que Krall quer com a arma que, nas mãos erradas, é capaz de fazer estragos inimagináveis.
Como uma boa continuação, Sem Fronteiras tem um ritmo constante, que de longe atrapalha a produção. O problema realmente está — assim como no vilão Khan (Benedict Cumberbatch) de Além da Escuridão — nas motivações de Krall. Assim como todos os antagonistas apresentados nessas novas aventuras, Krall é fascinante: é apresentado como um vilão clichê e quando menos esperamos a verdade se revela e o antagonista não é mais um simples vilão. Então em que quesito a composição do personagem de Elba erra? A motivação, que assim como a de Kahn, é bastante subjetiva, implícita. Apesar de tudo, o espectador nunca tem certeza do por que de Krall estar fazendo o que está fazendo, e a simples explicação de que é louco e nutre ódio pela Federação não cai bem.
Apesar disso, o personagem de Elba não é o único que sofre com motivações fracas. A excelente Jaylah — interpretada por Sofia Boutella — é uma personagem que cai facilmente nas graças do público, mas tudo isso se deve ao carisma da atriz que a interpreta. Não sabemos muito da personagem, apenas como caíra no planeta desconhecido, e não fica muito claro o motivo dela estar ajudando Kirk e companhia. Apesar disso, esperemos que Jaylah apareça numa das continuações, que muito diferente da insuportável doutora Carol Marcus de Além da Escuridão, tem todo o mérito de acompanhar a Enterprise em mais algumas aventuras.
Os aspectos positivos do filme é, definitivamente, um mar de surpresas. A maior vantagem de Star Trek, que são os personagens carismáticos, continua presente em Sem Fronteiras, mais aguçada que nunca, e com momentos tão engraçados quanto os dos filmes anteriores. E é preciso dizer: mesmo que pequenas, homenagens a atores mortos — como Nimoy e Anton Yelchin — através de momentos nostálgicos — vide o de Spock (Zachary Quinto) verificando os pertences do Embaixador Spock — e diálogos estão presentes.
O roteiro, que carrega o filme no geral, é bem simples, e através dos elementos que ele usa o motivo do filme ser nostálgico se revela. Ao fã saudoso, não há como não se lembrar de um episódio da clássica série que marcou infâncias: da tripulação separada e perdida num planeta desconhecido as fantásticas batalhas de nave é um mar de nostalgia — e um respeito ao material original, que a nova franquia mantém desde o primeiro: esse respeito também se deve a Abrams, que mesmo não tendo participado da direção de Sem Fronteiras é um dos produtores.
E apesar de ser o mais fraco dos últimos três, Sem Fronteiras é o primeiro a abordar descaradamente a verdadeira mensagem de Star Trek, que vai além de uma aventura intergaláctica. Para as crianças que vão curtir a aventura, Sem Fronteiras reforça doutrinas que a franquia vem construindo desde o seu início, no século XX: o companheirismo, confiança e a amizade. E o principal de tudo: a guerra entre nações pode ser facilmente resolvida pela paz.
Sem Fronteiras tem momentos marcantes — como a solução que a tripulação acha para atravessar o "mar" de abelhas — e as piadas continuam presentes — agora que a atmosfera leve voltou. Estas tem timing e conseguem o seu propósito to: aliviar a tensão.
O 3D infelizmente é indispensável. Não há uma cena se quer, muito menos uma tirada de câmera para fazer a tecnologia útil, na qual a técnica já monopozada se faz presente. E como se não fosse o suficiente, o 3D de Sem Fronteiras escurece bastante a fotografia, e em determinadas cenas é preciso se inclinar na poltrona para entender o que diabos está acontecendo na cena. Isso piora ainda mais nas cenas — a maioria delas de ação — na qual a fotografia já está bastante escura.
O filme tem uma ação constante, cenas de ação de tirar o fôlego e que prendem o espectador, inclusive o não fã da franquia, na poltrona. Mas o a direção de Justin Li e o roteiro de Simon Pegg — que faz parte do elenco do filme — e Doug Jung desenvolve a história propriamente dita e continua desenvolvendo a relação dos personagens — vide e Spock e Magro (Karl Urban) que passam boa parte do filme juntos.
Sem Fronteiras pode se resumir basicamente a um dos melhores blockbuaters do ano, mas não deixe a aventura passar. Fascinante, de tirar o fôlego ego, nostálgico e memorável Sem Fronteiras prova mais uma vez que Star Trek é atemporal!
Nota: 8.5/10