TÍTULO: O cotidiano de todas as mães
Afirmar que Minha Mãe é Uma Peça é mais uma das comédias tão comuns na atualidade do cinema brasileiro seria, no mínimo, uma motivação bem interessante para discussões diversas. Esse é sim, um filme diferente, uma comédia fora dos padrões esperados dos últimos anos. Sua diferença maior é inserir graça em uma relação tão factual quanto cotidiana: a relação de pais e filhos. Na verdade, mais especificamente de mãe e filhos.
O roteiro autobiográfico de Paulo Gustavo reflete, de forma pontual, o talento cômico brilhante desse artista plural. Isso porque seu roteiro é bem dinâmico, com as piadas contadas em um timing perfeito e de qualidade. Além de uma atuação digna de uma personagem tão simbólica, simples e intensa como todas as mães são, e D. Hermínia, em especial, pela impetuosidade de sua presença. Considerando dessa maneira, podemos dizer que, de fato, é no comediante que temos a essência da produção.
A diferença do esperado é identificar de forma tão interessante que não precisamos o tempo todo de uma piada sexual para fazermos comédia no país. Aliás, nos atuais stand-ups, destacam-se sempre positivamente àqueles que conseguem fazer rir sem exagerar ou extrapolar certos limites. Alguns podem indagar que Minha Mãe é Uma Peça possui certos exageros. As piadas sobre obesidade acabam sendo, não muito, mas um pouco, ofensivas, e aqui a palavra é usada em relação a fortaleza de sua presença e não ao sentido de ofender em si. A graça relacionada à homossexualidade do filho é desenvolvida de forma bem mais leve e muito agradável, sem ferir ninguém.
Na tutela de cinema, pode-se dizer que o filme é uma boa obra teatral, visto que a montagem é confusa, o lineamento explicita um condicionamento estranho durante todo o filme, principalmente no final, em que a passagem do tempo não pareceu verossímil o bastante e a narrativa tornou-se muito confusa, visto que a solução do conflito já havia sido apresentada há algum tempo no filme. Isso acontece porque o ambiente teatral perpassa a produção de maneira involuntária e, não há como não sentir em alguns momentos como se estivéssemos, de fato, na platéia do espetáculo, em que, até mesmo alguns aplausos tornaram-se concretos do decorrer da projeção.
Está certo, posso estar sendo muito chato ou criterioso a um filme que não deseja em nenhum momento concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Trata-se de uma diversão em forma de cinema, e nesse aspecto, tem-se todos os ingredientes perfeitos do bom cinema. Um cinema puro, livre de olhares "chatonildos" e comentários do tipo: "por favor, esse filme". Claro que me pergunto, por que essas produções são tão vistas e outras, um tanto mais reflexivas, e de igualmente tão boa qualidade são ignoradas em nosso cinema nacional. "Chatos" alguns me responderão. Enfim, é melhor que nos abstenhamos de certos comentários.
Indagados tantos elementos, não serei eu o chato. Corra para assistir Minha Mãe é uma Peça. É divertido, irônico, sarcástico, e bonito. De fato, como aparece nos créditos, homenageia competentemente, todas as mães que suam suas vidas para o melhor de seus filhos. D. Hermínia ainda vai além e ironiza a sociedade comunitária, de forma bem inteligente. Salve D. Hermínia, Paulo Gustavo, artista do Brasil! Salve as mães! Salve o cinema!