O silêncio e a música. É incrível como dois elementos a princípio tão opostos conseguem convergir em um filme a fim de provocar os mesmos sentimentos: angústia, terror, inquietação. A atmosfera sombria e ameaçadora paira sobre os espectadores desde o início, com a apresentação de um vídeo caseiro que termina com um close na foto de uma figura bastante sugestiva, até o fim do longa, que se desenrola de forma que a tensão só se intensifique, nunca se perca.
Júnior, o filho mais velho de uma família rodeada por forças ocultas e protagonista de Quando Eu Era Vivo, perde o emprego, a mulher e se vê de volta ao apartamento mal iluminado em que morava quando criança e onde viveu experiências assustadoras com seu irmão e sua mãe extremista. Agora, é o pai e sua inquilina, Bruna, que ocupam o espaço. Mas para surpresa de Júnior, o lugar está irreconhecível e, aos poucos, ele começa a trazer o velho apartamento de volta, desenterrando objetos e lembranças do passado que acabam por revelar um personagem doentiamente fiel ao ocultismo e, principalmente, às crenças e desejos da mãe.
A qualidade do elenco tem dois extremos: em uma ponta, a ótima interpretação de Antonio Fagundes, tanto nos escassos momentos de humor quanto nas cenas mais intensas; na outra, o trabalho superficial e milimetricamente calculado de Sandy, que não soa e nem parece natural.
Marco Dutra constrói um filme de terror com personalidade de cinema experimental. Em flashbacks que aparecem como sonhos do protagonista ou em filmes caseiros rodados em sua infância, conhecemos o lado sombrio da família influenciada pela mãe agora morta. Algumas situações são tão angustiantes que a sensação era de o público estar em uma espécie de transe silencioso até o protagonista acordar ou haver uma das frequentes passagens bruscas de cena (era quando eu percebia que estava apertando o saco de pipoca com uma força desnecessária). Os ambientes se tornam cada vez mais escuros, os acontecimentos cada vez mais assustadores e o futuro sempre imprevisível. O objetivo real (e perigoso) da volta de Júnior só conhecemos com o breve reaparecimento do misterioso irmão, quando a trama toma um novo rumo e se encaminha para um desfecho pavoroso e sentimental. Nem a música consegue soar tranquilizante em Quando eu era vivo, um filme que abraçou o terror em todas as suas particularidades e não deixa que isso seja esquecido durante momento algum