Quando foi anunciado que a Disney assumiria os direitos da franquia Star Wars, muitos se sentiram receosos com o que poderia vir na nova trilogia proposta pelo estúdio – será que os novos personagens estariam à altura do legado dos três filmes originais? A resposta foi uma bela surpresa para todos (bom, pelo menos a maioria) – os novos protagonistas fizeram de O Despertar da Força um filme exemplar para a série – mesmo que (habilmente) se aproveitando da estrutura narrativa do episódio IV, mas servindo perfeitamente para introduzir estas novas caras para o público – já em Os Últimos Jedi, sob o roteiro e direção de Rian Johnson, está nova fase do universo de Star Wars ganhava um caminho mais novo – utilizando-se levemente de elementos dos episódios V e VI – e, assim, mantendo a ótima qualidade do filme anterior de J.J. Abrams, que retorna agora, para concluir está nova trilogia – o cineasta criador da série Lost consegue com sua boa condução de trama fazer o que pode com um roteiro que desaponta por decisões forçadas e soluções decepcionantes para alguns de seus vários personagens – tanto os novos quanto os antigos.
Ao termino da sessão deste Episódio IX, não pude deixar de notar que o roteiro de Chris Terio e do próprio Abrams parece uma sucessão de tentativas em explicar pontas soltas dos filmes anteriores – lamentavelmente, não conseguindo amarra-las bem sempre – bom, para inicio de conversa, está é a sinopse: A Resistência Rebelbe liderada por Léia Organa (Fisher) descobre que o Imperador Palpatine ainda está vivo e se prepara para tentar recriar o Império Intergaláctico, para dizimar de vez qualquer tentativa de livrar os povos da galáxia da tirania imposta pela atual Primeira Ordem – com Rey (Ridley) ainda finalizando seu treinamento Jedi, Poe (Isaac) e Finn (Boyega) tentam ir atrás da localização do misterioso local onde Palpatine se esconde – enquanto que Kylo Ren (Driver) tem planos para eliminar o antigo Imperador para conseguir tomar a galáxia só para ele – precisando confrontar Rey para isso.
Em se tratando de uma franquia que chega ao seu nono episódio, não deixa de soar estranho o fato de um personagem nem ter sido citado nos dois filmes passados e agora aparecer como “chefão de fase” – é um tipo de furo que atinge até mesmo as estruturas dos filmes passados – afinal, o Snoke de Andy Serkis era uma figura inútil, se Palpatine já estava por trás dele – ou o simples fato de pensarmos em como o Imperador escapou da morte no final de O Retorno de Jedi – e, por falar neste, Abrams tenta usar a formula que usou no episódio VII – mas falha aqui pela repetição – repare como até mesmo o planeta de Endor aparece na trama ou até a maneira como a batalha final se assemelha com a batalha do longa de 1983 – sem falar que nem todos os personagens são bem aproveitados – a participação de Billy Dee Williams como o piloto Lando Calrissian praticamente não tem função para a trama – somente um “fan service” – o General Hux do ótimo Domhnall Gleeson tem uma participação simplificada e uma conclusão quase absurda – a Rose de Kelly Marie Tran (personagem importante em Os Últimos Jedi) é relegada a uma participação que mais parece uma figuração – e nossa saudosa Carrie Fisher como Léia tem funções importantes na trama – mas é notório como certas inserções de diálogos parecem estar incompletas ou simplificadas – provavelmente nem todas as suas cenas foram finalizadas, antes da morte da atriz – já a participação de Mark Hamill como Luke realmente não surpreende, é só o que se podia esperar - e Ian McDiarmid faz o que fez em suas aparições passadas como Palpatine, que parece estar ali de mentira – como se estivesse substituindo algo ou alguém – tenho certeza que já era uma ideia pensada desde o inicio desta trilogia inseri-lo, mas que não funciona bem, não funciona – evidente que isso agrada os fãs, que tem a chance de revisitar os poderes do maligno Sith – mas enfraquece o retrato da suada luta de Rey, Finn e Poe contra a Primeira Ordem.
Mas acredite: mesmo com essas falhas graves, A Ascensão Skywalker ainda se prova um bom filme – afinal, a base de tudo destes novos longas está intacta aqui: o foco nos quatro personagens principais garante que cada um deles tenha bem mostrado suas emoções e características – o Finn de John Boyega começa a se sentir finalmente fora de sua antiga “profissão” de Stormtrooper – o Poe de Oscar Isaac coloca em pratica suas noções de ser um líder e motivar seus pilotos e soldados – o roteiro só peca aqui por inserir rasteiramente um affair de Poe com a misteriosa personagem de Keri Russell – Finn e Poe, mesmo que com menos foco do que nos filmes passados, aparecem bem, com as boas atuações de ambos – mas, o que realmente faz o filme andar é a ligação entre Rey e Kylo Ren – com Daisy Ridley bastante segura em sua composição, ela consegue demostrar o fardo de ser uma das poucas pessoas a conseguir enfrentar Palpatine e de ser uma das últimas representantes dos Jedi – e a forma como ela encara algumas revelações de seu passado demonstram a versatilidade da atriz – trazendo a tensão sexual entre e ela e o Kylo Ren de Adam Driver – um ator excelente que com certeza compõe o personagem mais complexo de toda a franquia – Ren vai além de alguém indeciso e pressionado por valores externos – ele passa por uma busca por descobrir quem ele é de fato – simultaneamente com a mesma indagação que Rey faz a si mesma – de fato, este tipo de relacionamento não havia sido mostrado em Star Wars antes – fazendo da luta de sabres de luz dos dois em cima dos restos de uma famosa nave sobre um turbulento mar um dos momentos mais belos do filme.
E já que falamos da parte técnica, este novo capitulo da saga se mostra mais uma vez perfeito – a decisão desde o episódio VII de misturar efeitos digitais com efeitos práticos mais uma vez surpreende – seja pela recriação das naves da Resistência e da Primeira Ordem, ou pelos animais que surgem em tela – o pequeno boneco que representa um tipo de “programador de computadores” é um toque de humor bacana – nesta parte, o filme só desliza por não demonstrar bem o real tamanho da frota de Palpatine em seu planeta – me pareceu confuso, ou um mero exagero para impressionar – mas o design de produção acerta em criar cenários em torno do temível Imperador – bastante curiosa a forma de fazer o rosto do Sith parecer estar mudando de expressões com algumas piscadas de luz do ambiente um tanto destruído em que ele vive – a misce-en-scene de Abrams garante que as grandiosas cenas de batalhas e disputas de sabre de luz sejam bem compreensíveis – Rey se esquivando do caça de Kylo Ren no deserto é uma das cenas mais belas do filme (e da franquia).
O longa conta com as boas aparições cômicas do C3PO de Anthony Daniels e de Chewbacca de Joonas Suotano – este dois clássicos personagens, inclusive, chegam a fazer nossos corações ficarem abalados em certos momentos – assim como as participações sempre adoráveis de R2-D2 e o xodó desta nova trilogia, BB-8 – entretanto, tais ligações mais profundas ou emotivas se dão pelo legado que eles nos trazem pelos filmes anteriores – A Ascensão Skywalker perde pontos por parecer, muitas vezes, um desenvolvimento superficial de bons personagens – falha que os dois filmes passados não cometiam – alias, Abrams simplesmente ignora certas coisas que Rian Johnson havia colocado no Episódio VIII – as crianças de Canto Bright nem sequer são mencionadas, por exemplo; assim como o fundo de critica social – algo que vem lá de trás na franquia – como o discurso contra o fascismo – são coisas praticamente ignoradas agora – o que é uma pena.
Infelizmente, a ousadia ficou para trás e deu espaço para agradar apenas os fãs - que talvez também não aprovem tudo. Afinal de contas, Star Wars vai bem além do que naves e sabres de luz se encontrando e fazendo barulho – e, ao menos com seus fortes protagonistas, consegue ser um final correto para uma nova fase da saga que tinha começado de forma tão formidável.