Eu esperava por esse filme por um motivo bem específico: essa era a estreia de Wally Pfister como diretor. Ele é um dos melhores cinematógrafos trabalhando atualmente e fez parceria com Christopher Nolan, um dos meus diretores preferidos, nos filmes "Batman Begins" (2005), "O Grande Truque" (2006), "O Cavaleiro da Trevas" (2008), "A Origem" (2010) e "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" (2012). Ele recebeu o Oscar de Melhor Fotografia por "A Origem" e foi indicado mais três vezes.
Então, levando em conta que ele já trabalhou com Christopher Nolan algumas vezes, eu presumi que Pfister estava preparado para dirigir o seu próprio filme. E como eu estava errado! "Transcendece: A Revolução" foi uma grande decepção. Mesmo que Pfister saiba como criar uma bela imagem, ele ainda não estava preparado para coisas mais complexas, como desenvolvimento de personagens, construção de estrutura narrativa e ritmo. Os personagens são todos bidimensionais e eu não consegui me importar com nenhum deles.
E parte da culpa disso tudo deve cair em cima do roteirista também, um tal de Jack Paglen, para o qual "Transcendece: A Revolução" também era o seu primeiro trabalho. Se Wally Pfister tivesse feito uma parceria com um roteirista mais experiente, a sua estreia como diretor poderia, com certeza, ter sido muito melhor, mas, infelizmente, aconteceu comigo o que aconteceu com muita gente ao assistir esse filme: eu estava entediado ao ponto de quase dormir.
O conceito é muito legal. A ideia de carregar a consciência de alguém para um computador a fim criar a primeira inteligência artificial do mundo é interessante, mas, depois que isso é acontece, eles não fazem mais nada com esse conceito. Esse filme poderia ter sido uma origem não intencional para a Skynet, da franquia do Exterminador do Futuro (1984-2015), mas depois que Will tem a sua consciência carregada para o computador, nada mais de interessante acontece. Nunca. Tudo que ele faz é encher a conta da Evelyn de dinheiro, curar algumas pessoas de algumas doenças, ferimentos ou disfunções e criar um exército de híbridos de humanos e nanotecnologia. Mas tudo isso é contato através de uma narrativa tão chata e entediante, que eu estava lutando para não dormir. E quanto mais a trama se arrastava, menos ela fazia sentido.
Quanto à atuação, Johhny Depp é Johnny Depp. Qualquer um poderia ter feito o papel por ele e não faria diferença alguma, pois eu já vi muitas interpretações de inteligências artificiais, e ele não trouxe nada de original ou único. E, além disso, eu já estou farto de pessoas lambendo o saco dele por nada, mesmo que ele não tenha feito nada de momorável em anos. Rebecca Hall estava muito boa. Na verdade, ela é uma ótima atriz, mas a personagem dela era tão rasa, que eu simplesmente não conseguia me importar com ela. A sua personagem não tinha nenhum tipo de profundidade e não teve tempo algum dedicado ao seu desenvolvimento. Morgan Freeman e Cillian Murphy estão no filme, mas nada foi lhes foi dado. Eles foram extremamente mal usados. Cillian Murphy é um ótimo jovem ator, eu adoro ele, mas não consigo me lembrar nem o que o seu personagem estava fazendo no filme. E Morgan Freeman é um ator fantástico, mas a impressão que eu tive é que ele estava ali só para coletar o pagamento pela sua voz, nada mais.
O único personagem que chegou a quase despertar o meu interesse foi Max Waters (Paul Bettany). Além de ele ser um ótimo ator e eu adorar o seu sotaque, o seu personagem foi o que teve mais profundidade (na verdade, ele foi o único que teve qualquer tipo de profundidade) e passou por mais conflitos e transformações. Mesmo assim, ele não recebeu a atenção que deveria ter recebido. Nem do diretor, nem do roteirista.
E Wally Pfister tentou dar ao filme um final ambíguo, como Christopher Nolan em "A Origem", mas acabou sendo só mais um fracasso. Eu não me importava e só queria que o filme acabasse de uma vez, antes que eu entrasse em coma.
No final das contas, "Transcendece: A Revolução" tinha muito potencial para ser um ótimo thriller de ficção científica, mas é cheio de personagens rasos e irrelevantes. A premissa é interessante, mas todas as oportunidades de explorá-la passaram completamente despercebidas aos olhos do diretor e do roteirista. E é por isso que, infelizmente, "Transcendece: A Revolução" recebe um nota 2 de 5.
Curiosidade: um amigo de um crítico que eu acompanho trabalhava como revisor de roteiros em Hollywood e disse que leu o rascunho original do roteiro de "Transcendece: A Revolução" e disse que poderia ser uma ótima aventura de ficção científica. Ao assistir o filme, ele disse que aquele rascunho original massacrado. O que aconteceu com esse rascunho original? Nós nunca saberemos.