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    No Mundo da Lua
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    No Mundo da Lua

    De volta à Lua

    por Francisco Russo

    A popularização da animação computadorizada fez com que este modelo se tornasse hegemônico entre os projetos com algum tino comercial. Com gigantes do porte de Pixar e DreamWorks faturando alto, coube aos demais estúdios correrem atrás em busca de um apuro técnico parecido, mesmo que isto significasse abrir mão de uma certa independência criativa. O que surpreende no caso de animações como As Aventuras de Tadeo e este No Mundo da Lua é que, apesar de terem DNA espanhol, sigam à risca a cartilha americana de exaltação de símbolos e valores locais. Não se trata mais de questões mercadológicas, de seguir o formato dominante em busca de competitividade, mas de se apropriar e espalhar conceitos ufanistas (que não são seus) sem o menor remorso. Uma estratégia que pode até ser lucrativa, mas também um tanto quanto questionável sob o ponto de vista moral.

    Questionamentos conceituais à parte, No Mundo da Lua oferece ao espectador uma história construída com um pé na realidade e outro em uma lenda urbana mundialmente conhecida, de que o homem jamais chegou à Lua. É com base na teoria de que tudo não passou de uma farsa transmitida pela televisão, com direito a uma ótima piada envolvendo um diretor consagrado (e ícone da ficção científica), que o caricato vilão Richard Carson III justifica uma nova viagem ao satélite terrestre. O motivo, é claro, nada tem a ver com isso. Ele apenas quer se apropriar de um poderoso minério que permitirá a continuidade de seu império energético, de forma a torná-lo ainda mais rico. Simples assim.

    Se o vilão segue o típico modelo histriônico e excêntrico, sem abrir espaço para qualquer tipo de dualidade, é em seu oposto que está o lado mais interessante da animação. Afinal de contas, o trio de roteiristas composto por Jordi Gasull, Neil Landau e Javier López Barreira levou em consideração a atual realidade da corrida espacial, onde a emblemática NASA não possui mais os recursos de antigamente e, com isto, enfrenta dificuldades em levar novamente o homem ao espaço. É neste contexto que a trama situa a família Goldwing, intimamente ligada ao fascínio provocado pelo espaço sideral, ao ponto de provocar um racha interno: pai e filho não se falam devido a uma missão abortada. Cabe ao neto a missão de reuni-los nesta empreitada em manter o legado deixado por Neil Armstrong, Buzz Aldrin e tantos outros que entraram para a história espacial.

    Com uma profunda reverência ao pioneirismo de antigamente, No Mundo da Lua constrói sua narrativa com duas situações muito distintas. Ainda na Terra, há uma valorização da criatividade através do jovem (e carismático) Marty, criador de todo tipo de invento a ser usado pelo lagarto Ígor. Já no espaço, o filme assume de vez a faceta da aventura, se dedicando mais a provocar seguidas sequências de ação mirabolantes. É neste momento que o roteiro chuta o balde de vez em relação à coerência, se importando mais em criar situações que possam entreter a garotada, mesmo que estas não soem muito convincentes e sejam bastante exageradas.

    Apesar de jamais brilhar, ainda assim No Mundo da Lua possui qualidades suficientes para capturar a atenção de adultos e crianças. Tecnicamente bem feito, insinua uma certa habilidade em trazer para a animação questões do cotidiano envolvendo a pesquisa espacial, mesmo que jamais sejam aprofundadas (nem haveria espaço para tanto). Se provoca um certo incômodo pela exaltação a ícones patriotas estadunidenses, ainda mais por sequer ser uma produção americana, é também preciso valorizar o fato de ter sido produzida fora do eixo habitual da animação. Como curiosidade, fica a breve aparição de um personagem vestindo a camisa do Brasil durante a apoteótica apresentação do vilão, logo no início do filme, que retrata um pouco como os brasileiros são vistos mundo afora.

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