E assim vai...
por Francisco RussoMichael Douglas e Diane Keaton já foram reis em Hollywood: ele ao ganhar o Oscar de melhor ator por Wall Street - Poder e Cobiça, ela ao faturar a cobiçada estatueta dourada de melhor atriz por Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. Mais ainda: ambos possuem no currículo sucessos de público e de crítica, como Instinto Selvagem (ele) e os dois primeiros filmes da série O Poderoso Chefão (ela). Mas a idade é implacável, não apenas para o corpo mas também pela oferta de bons roteiros. Eles foram minguando, pouco a pouco, e ambos foram relegados a papéis coadjuvantes e sem o mesmo brilho. Keaton ainda se fechou numa espécie de personagem de si mesma, reprisada na maioria de seus filmes, onde surge sempre sorridente e com um figurino peculiar. Já Douglas se reinventou no telefilme Minha Vida com Liberace, pelo qual ganhou todos os prêmios possíveis. Pela primeira vez reunidos no cinema, eles estrelam um filme cujo título original tem a ver com o momento na carreira de ambos: “And So It Goes”. A vida segue em frente, trazendo o que for possível.
O que é possível neste Um Amor de Vizinha (péssimo título!) é uma comédia romântica voltada para a terceira idade. Não propriamente pela idade dos atores, mas pelos temas abordados. Cabe a Douglas interpretar um homem rabugento por natureza, que não vê prazer na vida desde que sua esposa faleceu, anos atrás. Mais ainda: bastante ácido, ele dispara seu mal humor a todos com quem cruza pelo caminho, muitas vezes de forma preconceituosa, o que lhe rende um punhado de inimizades. Já Keaton é uma viúva que decidiu se arriscar como cantora em restaurantes. É claro que eles moram um ao lado do outro, como o título brasileiro logo denuncia. É claro que eles irão se envolver – esta é uma comédia romântica, lembra-se? E é claro que o novo relacionamento irá amaciar o personagem dele, que aos poucos começa a ver alguma graça no que está ao redor. O problema do filme não é propriamente o que acontece, mas como acontece. Ou melhor, a velocidade com que acontece.
É verdade que Michael Douglas entrega um personagem com bons momentos, graças ao rancor que carrega sempre consigo. Seus diálogos com a já idosa colega de trabalho são divertidos, pelo alto grau de sarcasmo nas provocações que trocam a todo instante. Entretanto, as mudanças de temperamento que sofre são tão radicais em tão pouco tempo que soam incoerentes, por mais que a necessidade de dar apoio à neta recém-descoberta esteja em alerta vermelho a todo instante. O problema maior está no roteiro, que sabe aonde quer chegar sem conhecer bem a trilha rumo ao objetivo. Com isso, há “facilitadores” a todo instante, de forma a incentivar o romance com Keaton e a aceitação da neta a todo custo. Já pelo lado dela, chama a atenção a consciência do momento de vida: viúva, sozinha, com idade avançada e temerosa de mais uma vez machucar o coração.
No fim das contas, Um Amor de Vizinha é daqueles filmes corriqueiros, que até distraem mas pouco acrescentam ao término da sessão. Vale pela boa atuação de Michael Douglas e pela chance de ver Diane Keaton cantando. Por mais que ambos não estejam no auge de seu talento (e o roteiro sequer lhes permite isso), ainda assim apresentam lampejos dos bons atores que são. Se a direção do também veterano Rob Reiner fosse menos preguiçosa e burocrática, isto também ajudaria bastante a dupla. Razoável.