Um mundo de intenções
por Renato HermsdorffA escritora Alice Munro fez fama por seus contos curtos – a ponto de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura no ano passado por sua obra. Talvez por conta disso, este Amores Inversos poderia funcionar melhor como um filme de menor duração.
Não que se trate de um filme ruim, pelo contrário, mas o longa-metragem de Liza Johnson carece de um ritmo mais dinâmico. Esse é o maior problema da obra.
Apoiado em uma atuação contida de Kristen Wiig – atriz que, por sua vez, fez fama como comediante (Missão Madrinha de Casamento), porém já havia demonstrado talento para o drama, como seu papel em A Vida Secreta de Walter Mitty - é dela o maior mérito aqui.
De cara, vemos Johanna (Wiig), um cuidadora de uma idosa que falece na cena de abertura do filme. A delicadeza com que ela procede nesses momentos finais da vida da senhora sugere uma personagem quase altruísta, cuja personalidade é revelada aos poucos, interpretada com delicadeza pela protagonista.
A partir daí, indicada por um pastor, ela segue para a casa de um senhor rico (Nick Nolte) e sua neta, Sabhita (Hailee Steinfeld), a fim de cuidar deles também. Com a ajuda de uma amiga, a adolescente prega uma peça na pobre coitada, que consiste em simular uma troca, em princípio, de cartas e, posteriormente, de emails, entre Johanna e Ken (Guy Pearce), o pai viciado em drogas de Sabitha, acusado da morte de sua ex-mulher. E a nova babá embarca nesse amor platônico.
Num primeiro momento, Johanna parece meio bobinha, até, mas se revela complexa em sua simplicidade. Cada movimento facial de Wiig, por mais ligeiro que seja, revela um mundo de intenções.
A produção é um legítimo representante do cinema indie – vale lembrar que o longa anterior da diretora, Return, foi recebido com barulho no Festival de Cannes, em 2011.
Apoiado tecnicamente por uma direção firme e uma bela fotografia opaca, os diálogos convincentes acabam por se sobrepor à montagem arrastada. Amores Inversos pode até ser lento, mas é capaz de tocar.