Ao que tudo indica, a tradição do romance policial, que reinou absoluto durante muito tempo não mãos de autores ingleses e franceses, migrou nos últimos anos para os países nórdicos. Depois do sucesso da série de romances Millenium, do sueco Stieg Larsson, um outro expoente se destacou a ponto de render uma adaptação no cinema: o dinamarquês Jussi Adler-Olsen. A série identificada com o nome Departamento Q rendeu sua primeira versão para o cinema, com produção, direção e elenco da Dinamarca. Com o subtítulo de Guardiões das Causas Perdidas, a história é centrada no policial Carl Morck, que após perder os colegas numa operação, não é mais considerado apto para voltar à ativa, sendo enviado a uma humilde tarefa de arquivar processos não solucionados – as “causas perdidas” do título. Um recente caso lhe chama logo a atenção, e com a ajuda de seu único assistente de arquivo, Assad, ele irá se embrenhar numa investigação não-oficial para apurar o que realmente aconteceu, não convencido da versão de suicídio da vítima, desafiando e desagradando seus superiores, que lhe colocaram lá para executar simples procedimentos burocráticos.
Departamento Q é um dos melhores thrillers produzidos pelo cinema nos últimos anos e, como aconteceu com Millenium, é candidato sério a ganhar uma refilmagem americana – embora os produtores tenham se recusado a reconhecer a versão americana de Os Homens que Não Amavam as Mulheres como um remake mas, em suas palavras, uma nova versão da história. A versão americana foi totalmente desnecessária – a não ser para fazer dinheiro na terra do Tio Sam, tão avessa a filmes “estrangeiros” – já que o primeiro filme era excelente e irretocável, e tinha em sua linha narrativa investigativa (nós como público vamos seguindo a linha de raciocínio de Mikael Blomkvist), e no elenco o principal diferencial a favor, em comparação ao filme de David Fincher – que “mostrava” demais. Vamos combinar que “Mr. Bond” Daniel Craig é uma tábua em matéria de interpretação, não tendo sido uma boa escolha. Neste Departamento Q, minha percepção foi diferente e não tão entusiasmada quanto em relação ao filme sueco. O roteiro, de início, é muito bem desenvolvido e a direção segura, mas os dois protagonistas não tem o carisma necessário, sendo apenas corretos em suas interpretações. No entanto, se os protagonistas são fracos, o mesmo não se pode dizer dos coadjuvantes, todos excelentes, com destaque para Sonja Richter (como Merete) e Mikkel Boe Folsgaard (como Uffe, irmão de Merete). Um outro ponto fraco do filme é seu final, que se resolve de forma um tanto quanto apressada demais, com o detetive Morck desvendando tudo com uma rapidez e facilidade inverossímeis. Mesmo longe de ser perfeito, Departamento Q está acima da média dos thrillers recentes e vale muito a pena ser assistido.