Atores perdidos
por Lucas SalgadoDiretor das simpáticas comédias Amar... Não Tem Preço e Uma Doce Mentira, ambas com Audrey Tautou, Pierre Salvadori chega aos cinemas brasileiros com Em um Pátio de Paris. Trata-se do trabalho mais dramático do cineasta francês de 50 anos, que investe na história de duas pessoas já perto da terceira idade que se encontram em um momento de dificuldade e desenvolvem uma improvável relação de amizade e cumplicidade.
Gustave Kervern interpreta Antoine, um sujeito que muda de vida radicalmente. Cansado de sua vida e do dia a dia como vocalista de uma banda de rock, ele se muda para um antigo edifício parisiense e assume a função de zelador. Lá, conhece Mathilde (Catherine Deneuve), uma senhora recém-aposentada cuja saúde mental já começa a lhe pregar peças. Ameaçada de internação pelo marido, ela busca em Antoine o ombro amigo do qual precisa. Ele, por sua vez, descobre nela uma espécie de distração da realidade depressiva e insegura.
O longa não funciona como drama e também não diverte ao ponto de ser considerada uma comédia. Kervern e Deneuve estão bem e protagonizam boas cenas juntos, como a que mostra Mathilde visitando a casa em que cresceu e surtando diante da nova dona por causa de algumas mudanças no jardim. Mas o roteiro é tão pobre e superficial, que mesmo a dinâmica da dupla acaba prejudicada.
Por sinal, é curioso notar que o personagem de Kervern é bem mais interessante e complexo do que a de Deneuve. A loucura por si só não é algo que entretém ou emociona, gerando momentos mais histéricos do que dramáticos. Mathilde também está longe de ser uma personagem tão complexa como as que a atriz está acostumada.
Salvadori consegue dar certa ternura a seus protagonistas, mas falha no desenvolvimento da narrativa, que é arrastada e desinteressante. Como os dois personagens principais, o filme parece não possuir rumo ou propósito.