Dia dos namorados se aproximando aqui no Brasil e como sempre é estratégia dos cinemas nacionais segurar o lançamento de algum filme de romance para soltá-lo às vésperas da data, já que nos EUA o dia é comemorado em 14 de Fevereiro (semana da estréia mundial de Cinquenta Tons de Cinza). A bola da vez por aqui é a comédia romântica “Deixa Rolar” (lançado em muitos países já em 2014), do pouco experimentado diretor Justin Reardon e com os astros Chris Evans e Michelle Monaghan protagonizando.
Na história, um escritor conhecido como “o narrador (Eu)”, interpretado por Evans, está trabalhando em um roteiro de um filme romântico, e passa por problemas para fazer o trabalho por acreditar que nunca se apaixonou desde que sua mãe o abandonou, ainda garoto. Sente que por isso, acabou arruinando todo relacionamento que tentou até então. Mas como precisa realmente do trabalho e não tem nenhuma experiência romântica de verdade, “Eu” decide pedir ajuda aos seus amigos (Topher Grace, Aubrey Plaza e Luke Wilson), apelando para a experiência passada deles, mas isto não parece ser suficiente. É quando ele conhece “Ela” (Monaghan), uma mulher de personalidade que chama sua atenção, mas tem apenas um “probleminha”: ela está noiva.
Apesar de basicamente seguir a mesma fórmula tradicional da maioria dos filmes deste gênero (garoto conhece garota, a princípio não ficam juntos, ocorre o reencontro, finalmente o amor “acontece”, ocorrem a briga e a separação, depois a reconciliação e o final feliz... Não estou dizendo que isso acontece com o filme, só estou dando a fórmula!), ‘Deixa Rolar’ merece créditos por tentar mostrar ao espectador os fatos com uma abordagem diferente, através de histórias contadas por outros personagens (os amigos de “Eu”). Infelizmente, merecer tais créditos não quer dizer que a execução da tentativa foi boa. A narrativa é muito lenta e sofre problemas como a maioria dos filmes do gênero: a falta de verossimilhança e personagens totalmente estereotipados. E isso faz com que cena após cena o espectador quebre a “quarta parede” (ou quarto muro) e perceba que o que está vendo deixou de ser uma história interessante e que aquilo não passa de mais um filme fictício qualquer.
Convenhamos que fazer comédia é uma tarefa que requer muito talento. Um ator certa vez declarou que “Morrer é difícil, mas não tão difícil quanto fazer comédia”. Timing é importantíssimo, há também a questão cultural – o que é engraçado no Japão pode não ser na Rússia ou o que um paulista pode achar divertido, um nordestino pode achar ofensivo e vice-versa – entre outras diversas coisas. No caso específico da comédia romântica, o humor divide a tarefa de prender a atenção do espectador com o romance e apesar de trapalhadas, exageros e situações absurdas serem elementos inevitáveis do gênero, a comédia nunca pode soar forçada ou feita deliberadamente com a intenção de fazer o espectador rir. Na verdade, há quem pense que algumas das melhores comédias são verdadeiros martírios sofridos por seus protagonistas, vide os quatro amigos indo passar uma noite em Las Vegas em "Se Beber, Não Case!" (2009), Steve Carrell em “O Virgem de 40 Anos” (2004) ou os meninos de “Superbad: É Hoje” (2007). Em momento algum eles parecem saber que estão em um filme, apenas estão vivendo suas vidas normalmente, e é isso que torna tão engraçado os percalços sofridos por eles. Os personagens de “Deixa Rolar”, no entanto, são farsescos ao ponto de quebrar esse envolvimento do espectador com o filme.
Atuações pouco inspiradas, roteiro que se julgou inteligente, mas decepcionou, pois além da fraca tentativa de metalinguagem por parte dos roteiristas, o que dizer de um casal principal que não tem “nome”? Imaginem Dustin Hoffman em "A Primeira Noite de um Homem" (1967) chegando no casamento de Elaine e gritando desesperado: Ela!!! Ou Marlon Brando com a camisa rasgada debaixo da janela de Stella em "Uma Rua Chamada Pecado" (1951) gritando a mesma coisa - e a fraca direção do novato Reardon... Mesmo alguém que diga ser fã de comédias românticas há de convir que o filme esteja bem abaixo da média. Tolerável de se ver na televisão numa tarde de domingo, o que é uma pena, levando em conta o bom elenco que conseguiu reunir.