Em meio a uma virada e outra, o novo filme de Stephen Frears não consegue apenas emocionar, mas incomodar também, cutucar uma ferida e expôr uma história que é revoltante e reflexiva ao mesmo tempo. A começar pelo roteiro que é tão bem feito, de uma construção dramática tão convincente que ganha o espectador facilmente.
Confesso que não fui para o filme esperando muita coisa, principalmente por causa da sinopse, que acho bem fraca e desinteressante. Mas é louvável as coisas com as quais o filme consegue trabalhar, desde a discussão sobre religião, até a própria busca de Philomena, que se converge numa espécie de road-movie emocional, com doses de reviravoltas para que apenas fiquemos a par da verdade sobre o filho, junto com a mãe. E por causa disso, tudo vai soando muito interessante ao longo da narrativa.
Há o que se reclamar do maniqueísmo inicial do filme, principalmente nos momentos em que acompanhamos a vida jovem de Philomena: freiras más e sem compaixão alguma. Mas é perdoável, uma vez que ao final do filme, é possível compreender exatamente o motivo pelo qual elas faziam tudo aquilo com as meninas. Tudo em nome de uma fé, cega, que não permite ver o outro lado da moeda. Outro ponto que é maravilhoso no filme parte daí, o contraponto sensacional entre a idosa em busca de informações sobre o filho que lhe foi tirado, e mesmo assim temente a um Deus, com o jornalista, cético e sem nenhuma perspectiva divina da vida.
Ainda que possa ser classificado, de alguma forma, como um filme anti-sentimental, porque foge de todos os arroubos dramáticos em que poderia cair (e outro diretor talvez não resistisse a eles), é profundamente tocante. Sem dúvida alguma, é um filme que vai ficar por um bom tempo junto comigo e vou rever várias vezes. O trabalho de Frears na direção não é exemplar, apenas competente, sempre não muito distante de trabalhos televisivos, por exemplo, como bem se sabe, e aqui não é diferente. O destaque, mesmo, é o roteiro e a forma com que Judi Dench carrega toda aquela mágoa nas costas; o peso de uma derrota moral que é inesquecível pra quem viveu aquilo. E sua evolução como pessoa talvez incomode a algumas pessoas que não são dadas a isso, como incomodou Martin no filme, mas uma coisa é inegável: aquela mulher é muito forte, e um exemplo de ser humano, mesmo com todos os preconceitos ou falta de informação que possa carregar consigo.