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    Hélio Oiticica
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Hélio Oiticica

    Um retrato do artista pelo artista

    por Renato Hermsdorff

    Hélio Oiticica, o filme, não é um documentário tradicional, do tipo narrado ou que ouve personalidades ligadas à vida do (cine)biografado. A única pessoa, praticamente, que tem voz no filme de Cesar Oiticica Filho – sobrinho do retratado, mais conhecido por ser curador da obra do tio – é o próprio artista.

    A partir de um rico material audiovisual de acervo, incluindo as fitas cassete que Hélio Oiticica enviava aos amigos (Antonio Dias, Wally Salomão, entre outros) quando morava em Nova York – e que chamou pretensiosamente de “historical tapes” –, o diretor compõe um retrato póstumo do artista pelo artista.

    Na primeira metade, Hélio explica o conceito por trás das suas principais criações, a transição da pintura para uma arte plástica até então revolucionária, que partia do princípio da interação do espectador com a obra para existir como conceito.

    Está lá, nas palavras do criador, a origem dos núcleos (placas de madeira coloridas suspensas) e bólides (objetos manipuláveis de diferentes materiais) e, claro, os penetráveis (estruturas grandiosas que, como o nome indica, precisam ser adentradas pelos visitantes, sendo a mais famosa Tropicália, que deu origem ao movimento Tropicalista) e os parangolés, a obra que se “veste”.

    O filme destaca a influência do samba, que contribuiu para a “deselitização” artística da obra de Oiticica, e, sobretudo, a relação do artista com o cinema. Humberto Mauro, Glauber Rocha (com quem fez o filme experimental Câncer, como ator) e Neville D'Almeida (parceiro nos cosmococas, instalações com recursos multimídia) são lembrados.

    Já na segunda metade, o diretor não evita assuntos polêmicos como drogas e sexo, com imagens explícitas. O material de arquivo inclui cenas, a maior parte inédita, do acervo de amigos de Hélio, como Carlos Vergara, Jards Macalé e Jean Manzon.

    O grande mérito do filme -  o único brasileiro a conquistar o Prêmio Caligari, de inovação da linguagem, no Festival de Berlim – é a montagem de Vinicius Nascimento que, de posse de um material tão rico, conseguiu casar de maneira clara, na medida do possível, as imagens com a fala "solta" do personagem.

    Dessa forma, o espectador não (tão) familiarizado com a obra de Hélio Oiticica tem a chance de conhecer um pouco melhor o trabalho do artista; ao passo que os entendidos ainda terão uma experiência cinematográfica no mínimo criativa pela frente.

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