Inédito nas telas do Brasil, onde foi exibido apenas em um Festival de Cinema, este filme mexicano lembra muito, na experimentação do roteiro fracionado, a Pulp Fiction de Tarantino e um outro filme também mexicano, o mais conhecido Amores Brutos. Isto porque acompanhamos a história do ponto de vista de cada um dos 3 personagens principais: Ramona, a mãe de Osvaldo, desaparecido há 3 dias, Genaro, um homem que mora em um ferro-velho e quem Ramona conhece no necrotério, onde vai à procura de seu filho, e Mariana, uma jovem que vem morar no mesmo prédio de Ramona. Num primeiro momento acompanhamos os fatos através do que Ramona vê e pensa que vê. Depois, descobrimos rapidamente a história pessoal de Mariana e de Genaro e como cada um deles teve suas vidas cruzadas com a de Ramona. Cada trecho da história, focados em cada um dos 3 personagens principais, vai completando o quebra-cabeça somente para nós espectadores, que percebemos o quanto Ramona está errada em suas suspeitas.
A estreante diretora Márquez é uma verdadeira revelação. Embora ela contasse com a ajuda de um espetacular roteiro, que é bem costurado de início ao fim, sem se perder ao mudar o foco entre 3 histórias paralelas que se entrecruzam, é graças a ela com certeza o feito de conseguir uma linha de interpretação tão natural dos 3 principais atores. Além disso, o filme é impregnado de uma latinidade no retrato social do México que torna tudo tão familiar a qualquer país da América do Sul: seus personagens, os ambientes por andam circulam e as situações beirando o absurdo pelas quais eles passam são retratadas sem retoques, sem caricaturas nem preconceitos. Este componente meio sujo, meio mundo cão se estende desde o tom da fotografia às locações despojadas e extremamente realistas. Prazo de Validade nunca esconde sua origem de produção barata, mas que por isso não é sinônimo de filme vulgar ou escatológico. Há toques de humor negro que deixam no espectador uma sensação talvez incômoda de sentir vontade de rir de situações no fundo tão trágicas. Mas que são equilibradas por um retrato tão humano e rico de seus personagens. Destaque para as interpretações de Damián Alcázar e Ana Ofelia Murguía. Sim, os atores são feios e moram em ambientes pobres e sujos, mas não se deixe influenciar pela "capa". Prazo de Validade é um filme genial, que deixará muitos cinéfilos encantados - como eu fiquei - principalmente por seu roteiro original e tão bem estruturado.