1º de fevereiro de 2016. Carlos Villagrán, o Quico do Chaves, assina o contrato para atuar no filme "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola", adaptação do livro de Danilo Gentili. O anúncio aumenta as expectativas em torno do filme. Como seria ver Carlos Villagrán num filme nacional? Como seria o filme como um todo? Qual proposta Danilo Gentili e o diretor Fabrício Bittar pretendiam trazer para o filme? Como seria a reação do público?
12 de outubro de 2017. "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola" estreia nos cinemas de todo o Brasil e as perguntas anteriores finalmente poderão ser respondidas. No filme, dois estudantes, chamados Pedro e Bernardo, estudam em uma escola que adota medidas politicamente corretas. Pedro começa a tirar notas baixas e fica ameaçado de reprovar de ano. Um dia, ele encontra no banheiro um caderno de um ex-aluno, que ensina como colar nas provas e como estar sempre por cima dos outros na escola. Bernardo e Pedro partem então atrás do dono do caderno para lhe pedir ajuda. É o começo do caos na escola e das tentativas de Pedro de colar para conseguir passar de ano.
Vendo o filme e acompanhando as entrevistas que o diretor e o elenco deram na pre-estreia em São Paulo, fica claro que o longa tem como proposta falar da vida na escola e, ao mesmo tempo, ser uma comédia. A ideia que o filme passa, principalmente através do personagem de Danilo Gentili, é que não se deve ficar tão preso aos ensinamentos da escola porque ela não determina como será a vida adulta dos estudantes. Assim, Bernardo e Pedro deixam de seguir as regras da escola e passam a colar e a praticar o bullying no ambiente escolar para se dar bem. Dessa forma, o filme usa muitas situações que são politicamente incorretas para mostrar a mensagem que pretende. Ao mesmo tempo, tenta passar comicidade nessas situações – caracterizando o filme como uma comédia.
A proposta é até interessante, mas a fórmula que o filme usa para passa-la não é tanto. Ainda que a intenção do filme seja usar do politicamente incorreto mesmo, alguns questionamentos mínimos cabem: é preciso recorrer ao bullying para se dar bem no ambiente escolar e na vida? Acredito que não. O próprio Carlos Villagrán, falando sobre o filme numa entrevista para o canal “O Que tem na Nossa Estante”, disse que bullying não devia existir. O filme até poderia usar de situações politicamente incorretas, mas não precisava necessariamente incitar a prática do bullying. Outro detalhe é que o filme dá a entender que, ao ir contra o que nos deixa infelizes na escola, vamos ter uma vida adulta onde só fazemos o que gostamos, e não é bem assim. Em alguns momentos todos terão que fazer algo que não gostam, isso também é nos ensinado na escola. Como disse a Camila Sousa do site “Omelete” em sua crítica, o filme poderia ter simplesmente não se preocupado em passar uma mensagem e ter mostrado somente as aventuras de Bernardo e Pedro tentando passar de ano – com isso, o longa teria evitado esses problemas.
No quesito atuações, Daniel Pimentel e Brunno Munhoz vão bem como os protagonistas, mas os grandes destaques são Danilo Gentili, Moacyr Franco e Carlos Villagrán. Os três demonstram grande talento em cena, vivendo cada situação e ficando totalmente entregues aos seus personagens. Villagrán, cuja participação era cercada de expectativa, vai muito bem como o diretor Ademar. Em entrevistas, o ator comentou que sentiu dificuldade com o português. É possível perceber isso no filme em alguns pequenos momentos, mas Carlos também demonstra grande dedicação para falar bem a língua. Mesmo nos poucos momentos em que não se entende direito o português, é possível compreender a intenção das falas e do personagem – algo que só um ator com grande talento, como o Carlos Villagrán, conseguiria fazer. Vê-lo em um papel tão diferente do Quico é um atrativo a mais para o filme.
No quesito técnico, o filme tem um visual muito bem feito, chegando a parecer um filme americano dos anos 1980. A trilha sonora é impecável. E destaque para a cena da perseguição de carro, a mais elaborada e bem feita de todo o filme.
De uma forma geral, "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola" é um filme que tem elementos positivos mas erra principalmente na mensagem que quer passar e seria um mal exemplo para muitos. Por ser tão politicamente incorreto (mesmo sendo essa a intenção), só é possível aproveitá-lo se deixar isso de lado. Do contrário, o melhor é lembrar do que Fábio Porchat disse no trailer: “eu abomino este filme. Acho um desserviço para a comédia, para o cinema nacional, para as crianças. Enfim, fiquem em casa, não vão ao cinema”.