OS AMANTES PASSAGEIROS
Pedro Almodóvar faz parte de um seleto grupo de diretores atuais que me fazem ir ao cinema ver seus filmes independentes do que se tratam, assim como Tarantino, Aronofsky e Scorsese. Mesmo com um trailer fraco (coisa que anda acontecendo muito por aí, onde há muitos trailers ruins de filmes bons e vice-versa), fiquei curioso de assistir a esse filme por ser o retorno de Almodóvar às comédias, rememorando seus filmes oitentistas. E também bateu aquela curiosidade para saber como seria o filme seguinte a um dos filmes mais marcantes de sua filmografia, pois amem ou odeiem, é impossível ser impassível ao excepcional A Pele Que Habito. Mas falando sobre Os Amantes Passageiros, há vários ingredientes tipicamente almodovarianos lá: gays afetados, mulheres histéricas, muitas cores e non-sense. Os personagens são extremamente estereotipados e tudo parece levar ao sexo. Desde os comissários de bordo que se envolvem com o piloto e copiloto do avião (estes últimos bissexuais, por sinal); uma vidente quarentona virgem; uma ex-modelo/atriz/cantora envolvida em uma série de encontros amorosos furtivos e impessoais; um ator mulherengo; um jovem casal de noivos indo para sua lua de mel; um corrupto cuja filha é dominatrix; e até mesmo um assassino de aluguel que acaba fazendo sexo com uma das personagens em pleno voo, sem contar a micro participação de Antonio Banderas e Penélope Cruz como um casal que se descobre “grávidos”. Toda a ambientação no avião, com uma falha no trem de pouso, e que corre sério risco de explodir ao fazer um pouso forçado, faz com que seus personagens se desmantelem em suas lamúrias, de forma exagerada e cômica, com um misto de acidez advinda pela crise econômica que assola a Europa, em especial a Espanha, onde o avião é uma parábola para a incerteza de um futuro imprevisível. A ideia é boa, e a concepção é bacana. O filme tem bons momentos e não chega a aborrecer, apesar de certo destaque a personagens fracos e mal desenvolvidos. Só que ele sofre do maior problema que uma comédia pode oferecer: falta de graça. O que é diferente de falta de humor. O filme tem bom humor, mas faltam risos, pois é tudo muito escrachado, mas por outro lado insosso. Isso faz com que o filme decepcione aqueles que queiram risadas a todo custo, pois Os Amantes Passageiros definitivamente não é engraçado. Trata-se simplesmente de um filme menor (sim, bem menor) da filmografia de um diretor icônico, mas que não acertou a mão ao contar essa bem intencionada crítica, que poderia ser bem mais incisiva e marcante do que realmente é.