Um dos diretores e roteiristas mais aclamados do cinema espanhol, Pedro Almodóvar, em seu mais recente filme, “Os Amantes Passageiros”, apresenta um lado diferente de sua filmografia, na medida em que esta comédia trata os costumeiros temas presentes em suas obras (notadamente os que se referem à densidade da natureza dos relacionamentos humanos) de uma forma um tanto leve, frívola e quase fantasiosa – que acaba prejudicando o resultado final obtido pelo diretor e roteirista espanhol, uma vez que “Os Amantes Passageiros” termina sendo um longa incoerente em muitas de suas intenções.
A história se passa dentro de um avião da companhia aérea Península, mais especificamente na primeira classe deste meio de locomoção, onde se encontra um grupo heterogêneo de pessoas, cada um com os seus próprios problemas. Ganha destaque também no roteiro escrito por Pedro Almodóvar a tripulação excêntrica deste vôo, a qual também está envolvida em seu próprio, digamos, mundo, lidando com o desgaste normal de uma rotina puxada em termos profissionais e com as questões delicadas advindas dos muitos encontros e desencontros amorosos entre eles.
Como se dá para perceber, este voo não é típico – não só por causa do grupo de pessoas que nele se encontra. Na medida em que a viagem começa a enfrentar problemas, já que um dos trens de pouso da aeronave não está mais funcionando, é que Pedro Almodóvar começa a esboçar a sua ideia principal, a qual acaba não sendo muito bem trabalhada. Quando explora a metáfora do voar em círculos (o piloto do avião é obrigado a fazer isso enquanto espera a prontificação de algum aeroporto que tenha condições de receber um pouso de emergência), Almodóvar se refere aos próprios personagens presentes na primeira classe daquela aeronave, que se recusam a enfrentar os seus problemas e que estão todos fugindo ou à procura de alguma coisa. Um outro ponto interessante é Almodóvar mostrar que, enquanto a primeira classe está recebendo todo o luxo e preocupação possível, os passageiros da classe econômica são relegados ao segundo plano e passam o voo inteiro dopados, anestesiados, inertes a uma situação que pode modificar a vida de todos que ali estão. Qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência…
Entretanto, como bem comentamos, tais ideias – que são interessantes – não são desenvolvidas da forma correta por Pedro Almodóvar. O diretor e roteirista espanhol, desta vez, não conseguiu se comunicar por completo com a sua plateia. E isso é culpa direta do seu roteiro e da tão famigerada expectativa que sempre ronda as obras de alguém tão talentoso e querido pelo meio cinéfilo como ele. Se “Os Amantes Passageiros” acaba sendo uma obra decepcionante, pelo menos não o faz isso por completo, afinal, ainda encontramos na tela as típicas cores do universo Almodovariano e um grupo de atores talentosos (em sua maioria, todos já trabalharam anteriormente com o espanhol) que faz o melhor possível com um roteiro desastroso.