Desnude Público
A jovem e talentosa atriz Elena Costa foi para os Estados Unidos em busca de seu grande sonho, sonho esse que ruiu mediante a solidão e a dor que sua personalidade sensível não puderam suportar.
Petra vai ao encontro da figura da irmã pelas ruas de Nova York, munida com uma câmera de celular, seus depoimentos pungentes e as fitas de áudio e vídeo que haviam sido gravadas por Elena ao longo de sua breve vida. Tais recursos fazem a produção, além de ter um custo reduzido, apresentar uma atmosfera confessional. Mergulhamos nas memórias familiares através dos filmes caseiros nesse ambiente extremamente intimista e pessoal, fazendo com que a aproximação com o espectador seja quase obscena em flagrantes de cenas tão particulares, dentre as quais se destacam as danças leves, provocativas e poderosas de Elena como elemento de transição para um mundo onírico.
A admiração profunda que Petra nutre pela irmã e a tentativa irrefreável de buscar o seu mundo trazem à tona a temática da intensidade do amor fraterno. O próprio fato de Petra ter seguido os passos da irmã, metafórica e literalmente, nos provoca o entendimento de quanto o filme é visceral em sua delicadeza.
Ao apresentar os depoimentos de sua mãe sobre o dia do suicídio de Elena e a leitura de sua carta de suicídio e atestado de óbito, Petra torna nossa a dor da irmã e nosso também o sofrimento de sua mãe. Somos tragados, entre compadecidos e desconcertados, pelas tormentas dessas três inquietas e intensas mulheres.
Petra busca sua própria identidade na transição da infância para a vida adulta e em Elena encontra seu referencial, tendo semelhanças notáveis com ela. Confundem-se em imagens desfocadas e distorcidas que trazem as lembranças de Elena, ainda tão presente na memória daqueles que a conheceram, mesmo após tantos anos.
O fantasma da tragédia familiar está sempre presente, quase palpável, rondando a juventude de Petra e deixando tensos os que acompanham seu desabrochar. E a jovem se expõe, desnuda-se em público, atira-nos sua dor. O documentário, poético demais para receber tal classificação, é sua catarse, a expiação de seu sofrimento. A encenação de suas mortes na água, símbolo da purificação e do renascimento, nos mostra que o processo que acompanhamos Petra passar durante o filme a liberta. E ela pode então finalmente dançar pelas ruas de Nova York.