Produção nacional também investe no 3D, mas ...deveria?
Indagado durante a divulgação de seu novo longa sobre o que mais lhe chamou a atenção em relação ao contraste existente entre o cinema nacional e o hollywoodiano, Wagner Moura sentenciou sem pestanejar: “O dinheiro, eles têm muito!” Moura, juntamente com a também brasileira Alice Braga serão vistos ao lado de Matt Damon e Jodie Foster na superprodução Elisium, prevista para estrear ainda este mês no Brasil. A frase dita por Moura sintetiza com perfeição o continental distanciamento que há entre essas duas nações, no que diz respeito aos recursos disponíveis para levar às telas as suas ambições artísticas. Diante dessa realidade, somos agraciados com a inusitada notícia de que finalmente é lançado o primeiro filme em 3D da história do cinema brasileiro, e trata-se de... uma comédia de erros.
A utilização do 3D ganha mais uma ramificação, uma vez que o cinema brazuca resolveu também ingressar nesta tendência. No entanto, qual a lógica de se realizar em 3D um filme cuja proposta é majoritariamente focada no “padrão plim plim de humor”, não havendo nenhum atrativo visual que justifique essa escolha? Umas palmeiras aqui, uns balões ali, mais alguns detalhes acolá serão o máximo de “mergulho e textura” que o curioso espectador de Se Puder... Dirija irá presenciar ao longo da projeção se optar pela cópia que adota o novo recurso.
Mas se sua intenção é ver o filme apenas para rir... Bem, se você for adepto do humor escatológico, dará algumas risadas, do contrário, poderá esboçar um sorriso aqui e outro ali, diante dos esforços do diretor e roteirista Paulo Fontenelle em fazer rir. Contudo, talvez alguns risos surjam involuntários, por conta da sutileza (ou a total falta dela) em relação ao merchandising, esse sim praticamente sai da tela em direção à platéia.
A história do manobrista (Luis Fernando Guimarães) que aceita o conselho de seu amigo e colega de trabalho (Leandro Hassum), e pega "emprestado" o carro de uma cliente (Bárbara Paz) para cumprir o que prometeu à sua ex (Lavínia Vlasak) e passar um dia de lazer com o filho (Gabriel Palhares, de 5 anos), vivendo com isso “as mais loucas situações”, convenhamos, não seria a mais oportuna para protagonizar o “pioneirismo do 3D na produção cinematográfica nacional”.
Os nossos atores, diretores, roteiristas, enfim, os nossos realizadores há muito tempo nos enchem de orgulho com obras que se tornam grandes sucessos de bilheteria e projetam internacionalmente as nossas ambições artísticas, credibilizando o nosso audiovisual. Olha aí o Wagner Moura, a Alice Braga, o Rodrigo Santoro, e os diretores Carlos Saldanha (“Rio”), Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”) e José Padilha (“Tropa de Elite” e o novo “Robocop”) fazendo bonito em Hollywood. Nunca antes na história do cinema nacional nossos talentos foram tão reconhecidos. Mas utilizar um complexo recurso visual que está em evidência apenas para retocar detalhes que não acrescentam em nada na história só confirma o contraste citado lá no início. Não apenas um contraste financeiro, ou de recursos narrativos, mas de ideias para colocá-los em prática de maneira criativa e eficiente.