Quando muita gente começa a louvar um filme sumariamente independente, daqueles que não prometem absolutamente nada e os envolvidos são quase desconhecidos, e colocá-los em listas de melhores do ano é porque ali consta uma obra que devemos, ao menos, prestar uma atenção a mais.
É o caso desse filme de Noah Baumbach, um diretor que vem cada vez mais crescendo e se fazendo presente dentro desse cenário independente americano. E aqui, não cansa de fazer referências visuais e textuais a outros cineastas como Woody Allen, por exemplo. E nada me tira da cabeça que Frances é, na verdade, uma espécie de extensão de Poppy, personagem do filme de 2009 feito por Mike Nichols, Simplesmente Feliz.
Com características próprias, a personagem principal - e que dá o título - de Frances Ha não demora a nos conquistar e contagiar a tela. A ela, sobra a principal característica que uma protagonista de um filme desses deve ter: carisma. E dessa forma, faz um verdadeiro espelho de certas características de nós mesmos. A personagem é tão fracassada, tão azarada, perdida, e por vezes, parece tão desagradável que não tem como não enxergar a si mesmo em algum momento do filme. E o maior acerto do filme é o tom propositalmente leve dado a todas as "desgraças" pelas quais Frances passa, atingindo seu ápice numa sequência divertidíssima em que a personagem, num ato de profunda imaturidade, resolve fazer uma viagem até Paris de última hora e perde absolutamente todos os compromissos possíveis que ela poderia desfrutar: ou por estar em Paris quando sua melhor amiga, em NY, a chama para uma festa de despedida; ou por já ter voltado para NY quando recebe um telefonema sobre um jantar com uma velha amiga em Paris; ou por dormir demais.
O fato é que esse foco em "como será a vida após a faculdade" não é muito bem uma inovação no cinema hollywoodiano dos últimos anos, mas são raras as vezes que um realizador acerta ao olhar para uma história extremamente pessimista com otimismo. E o legal aqui é justamente a forma com que Frances encara cada momento de sua vida (representado muito bem, como em capítulos de um livro, pelo endereço de cada casa que a garota morou nesse período de tempo) com um olhar do tipo "eu poderia estar pior". E por mais que se sinta derrotada em relação a todos os que ascendem ao seu redor, ela continua com a esperança de que aquilo pode (e vai) melhorar. Em meio a cenas emocionantes e vergonha-alheia na mesma medida, no fim, não deixa de ser uma questão de auto-estima.