Falar sobre algo com que você tem afinidade e uma identificação infantil é muito complicado. A tendência é fechar os olhos para todos os pontos negativos e achar tal coisa soberba, magnífica, influenciado por sentimentos de outrora. Infelizmente tenho que sentenciar: Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses ficou abaixo das expectativas.
Eu sou um grande fã de Dragon Ball. Já Dragon Ball Z e GT, em minha opinião, foram apenas interessantes, com um conteúdo maçante e previsível, se agarrando à fama - mais do que merecida - conquistada pelos seus personagens com a primeira fase da série. Não irei entrar no tema das excelentes lições levantadas pelos animes e mangás em geral. Se você não teve a sorte de, durante sua infância, entender o poder da amizade, da superação ou da dedicação pelas mãos de um mero “desenho”, não será depois de velho que passará a apreciar tais características. O problema, porém, é que por ser um filme muito curto, A Batalha dos Deuses também não desperta os sentimentos mencionados nos mais novos. Por isso o interessante seria assistir a série antes de ver o filme. E aí entra a contradição de tudo: para os mais velhos o atrativo do filme é ver algo que marcou a infância. E para os novos, que ainda não tem essa identificação, o atrativo acaba apenas sendo ver um desenho, o que é muito superficial para algo da grandiosidade de Dragon Ball. Acaba tendo um apelo fraco tanto por um lado quanto por outro.
Se Akira Toriyama queria se vingar de Dragon Ball Evolution, poderia o ter feito de forma mais contundente. O enredo sem reviravoltas não desafia o espectador em nenhum momento, mostrando um poderoso deus – Bills – querendo derrotar a terra e batendo de frente com Goku e companhia. E quando o enredo não tem grandes atrativos, os personagens devem dar conta do recado para tornar o filme bom. Porém nem neste quesito Dragon Ball: A Batalha do Deuses tem força. Tudo bem, todos os personagens – ou pelo menos grande parte deles- que sempre nos fizeram vibrar com todo o seu carisma estão lá. E concordo que os personagens de Toriyama não têm que provar mais nada para ninguém. Mas apenas os jogar em cena é apelação. Acaba sendo um amontoado de personagens legais que poderiam ser mais legais ainda no filme, mas que não tem espaço nem tempo para mostrar o mínimo. Da mesma forma, também foi apelação a aparência do Super Saiyajin nível Deus. Fiquei com a impressão de que, para se desculpar pela aparência monstruosa e feia do Super Saiyajin nível 3, resolveram deixar o Goku nível Deus com uma aparência shoujo para ter um apelo comercial mais forte. Outro ponto que ficou devendo foi animação, por mais que seja superior à da série, ainda apresenta uma qualidade inferior do que é esperado para um longa-metragem de anime. E não vejo a introdução de elementos tridimensionais em desenhos japoneses como algo positivo. Prefiro apenas o belo e incomparável traço oriental.
O filme possui diversas referências ao universo de Dragon Ball, porém as faz de uma forma equivocada, sempre tentando arrancar gargalhadas do espectador.
A cena que Goku se apresenta para Bills no minúsculo planeta do senhor Kaio se mostrou bastante forçada
. O que não é equivocado, porém, é a presença hilária de Pilaf e seu bando. Esses sim irão te fazer gargalhar muito e te farão questionar porque um personagem tão marcante não teve tanto destaque após a saga original de Dragon Ball. Outro fato legal do filme é saber que
o mimado Gohan – quem não lembra de todo sofrimento do garotinho no começo de Dragon Ball Z? – será pai
. Vale destacar também a dublagem original da versão brasileira da série. E o vilão Bills também se mostra muito interessante, com um carisma forte o suficiente para figurar em possíveis próximas produções da série.
Se você é fã, muito fã mesmo, e quer ver o maravilhoso mundo de Dragon Ball de uma perspectiva diferente – na sala escura, em uma tela gigante – então o ingresso pode valer. Caso contrário, você não perderá nada se assistir Dragon Ball Z – A Batalha dos Deuses no conforto do seu sofá.