“Batman”, filme dirigido e co-escrito por Matt Reeves, nos coloca diante de mais uma tentativa de repaginação de uma das personagens mais emblemáticas do universo do entretenimento. Aqui, estamos diante de um Batman diferente: menos glamuroso, menos elegante, menos playboy. Entra em cena um homem sombrio e recluso.
Este tom reflete também a Gotham City que encontramos em tela e que também retrata o seu lado mais sinistro: uma cidade violenta e dominada pela corrupção e pelo abuso de poder. A ascensão do Batman como um vigilante solitário nesta localidade não tem como foco a salvação da cidade e a sua reconstrução/renovação. A sensação que temos é a de que, não só ele, como seus aliados, principalmente os da polícia (representados pelo, então, Tenente James Gordon), estão apagando incêndios um dia de cada vez.
“Batman” coloca o herói (interpretado por Robert Pattinson) diante de um vilão bastante engenhoso, o Charada (Paul Dano). E é aqui que temos mais um elemento que entrelaça essa trama: com o propósito de desmascarar a verdade sobre a já combalida Gotham City, o Charada não quer também a reconstrução/renovação do local, e sim a sua completa destruição. Ou seja: a descoberta da verdade não vem como um elemento de libertação, e sim como uma forma de aniquilação, de devastar o que já está em frangalhos.
Como se pode perceber, “Batman” é um filme que tem uma coesão muito forte - seja na maneira como o roteiro foi concebido, como também na forma como a história nos é apresentada visualmente. No final, estamos diante de uma obra em que a jornada serve como um instrumento de autoconhecimento para o herói. Batman tem consciência de que pode ser um homem que poderia estar fazendo muito mais pela sua cidade. A transformação, o entendimento do que se espera dele, acontecem como uma consequência de tudo que ele vive aqui.
Como uma obra de repaginação, neste sentido, “Batman” funciona muito bem como um prólogo. Um prólogo um pouco mais longo do que deveria ser - diga-se a verdade. Porém, um prólogo que cumpre muito bem o seu papel de antecipar que a parte principal deste caminho ainda está por vir.