[...] “é muito mais prazeroso assistir a um filme sem saber tanto sobre ele, seja da sua história na frente ou atrás das câmeras”.
Imagine a sensação de estar dormindo em uma cama confortável enrolado em um cobertor quentinho. Pois essa é a sensação de assistir ‘Sob o Mesmo Céu’ (Aloha). Trata-se de um filme, mesmo considerando todos os seus defeitos, bastante agradável de assistir.
Sob o Mesmo Céu não tenta ser mais do que se propõe. Com diálogos rápidos, confusos e desconexos, o filme aborda uma questão que cada vez mais exacerbada na era da internet e seus curtos tuites: a falta de palavras. Mesmo que todo mundo queira dizer algo, muitas vezes nada é dito. Woody (John Krasinski) é a personificação disso. Todos os dilemas, todos os problemas do longa se dão pelo fato de que ninguém fala exatamente o que quer dizer, o que repercute em relacionamentos quebrados; tanto pessoais quanto de negócios.Tudo acaba ficando nas entrelinhas.
Diversos jornalistas atacaram principalmente a escalação de Emma Stone para o papel de uma descendente de havaianos, por não possuir semelhança física/étnica alguma com eles. Cameron Crowe veio a público pedir desculpas àqueles que se sentiram ofendidos com a escalação da atriz, e afirmou que tinha a melhor das intenções em escolhê-la para dar vida à jovem que é ¼ havaiana e que possui uma salada de nacionalidades em sua árvore genealógica, mas que é extremamente orgulhosa de sua pequena fração de sangue asiático-americano.
Seja por influência das polêmicas ou não, ‘Sob o Mesmo Céu’ já é o filme mais fracassado de Cameron Crowe criticamente. Porém, ele está longe de ser essa bomba que a crítica especializada está dizendo que é. Erra a mão em alguns momentos, principalmente no último ato, que mistura a missão de Brian com o romance e o drama e o resultado parece uma confusão de gêneros, mas esse escorregão não chega a comprometer o filme por completo. ‘Sob o Mesmo Céu’ é bastante agradável e tem as marcas do diretor estampadas do início ao fim: a trilha sonora de presença, uma bela fotografia e senso de humor. Leave Aloha alone!
Crowe pode não ter acertado por completo com ‘Sob o Mesmo Céu’, mas o filme não perde sua importância em determinar o peso das palavras - tanto àquelas que foram ditas quanto as que ficaram presas e nunca saíram.
“Palavras não ditas carregam um peso tão grande quanto as que são proferidas.”
Na trama, o personagem de Cooper é um militar que depois de fracassar em uma missão retorna ao Havaí, sua terra natal, para um novo trabalho. Lá, ele passa a se ver dividido entre dois amores, uma paixão do passado e uma piloto da Força Aérea.
O elenco estrelado é o que garante um pouco de consistência ao longa. Stone se mostra tão confortável no papel da divertida Alisson que é difícil imaginar outra atriz em seu lugar. Intencional ou não, a escolha do cineasta se mostrou acertada pelo menos no campo da atuação e a interpretação da atriz propiciou divertidos momentos ao longo do filme.
E quanto aos méritos, devemos mais uma vez ressaltar o quão excelente trilheiro nosso amigo Crowe é. Numa cena de festa onde Murray e Stone se acabam na pista desfilam hits de Tears for Fears e Daryl Hall & John Oats, no que deve ser a "melhor cena nada a ver com o resto do filme" do ano; se tem algo onde Crowe nunca erra é na soundtrack, e aqui não é diferente.
Algumas boas cenas se destacam como a criativa e interessante cena onde os personagens de Cooper e John Krasinski interagem sem dizer uma só palavra (legendas aparecem descrevendo o "diálogo" sem palavras).
As cenas cômicas e românticas são alternadas de modo orgânico. E por serem muito boas (salvo poucas exceções), o filme se torna gostoso de assistir.
Uma grata surpresa do roteiro de Crowe é a quantidade de referências à cultura do país – as crenças desempenham um papel muito importante e são praticamente um personagem do filme -; Cameron as trata com o devido respeito e ainda abre espaço para uma ou outra rápida crítica à relação EUA x Havaí. É quase uma carta de amor à ilha.
Em resumo, Aloha não se contenta em ser o filme mais fraco de Cameron Crowe, então faz questão de ser, também, um dos mais ambiciosos. A lição que aprendemos é que é melhor levar uma trama despretensiosa de maneira fantástica do que levar uma trama complexa de maneira insuficiente.