É sabido que livros, sejam clássicos da literatura ou best-sellers, são uma fonte inesgotável para filmes do cinema. Podemos citar como exemplo dois grandes sucessos que foram adaptados de livros: o clássico ...E o Vento Levou (1939), do romance de autoria de Margaret Mitchell (1900-1949); e, mais recentemente, Entrevista Com o Vampiro (1994), de Anne Rice. No Brasil, pode-se citar Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), da obra do grande Jorge Amado (1912-2001); e O Xangô de Baker Street (2001), do livro do Entertainer Jô Soares.
Assim como a literatura adulta, a literatura infanto-juvenil também é uma grande fonte para os estúdios de cinema, principalmente para desenhos animados, mas também para filmes "live action". Como exemplos podemos citar os filmes brasileiros O Saci (1951), baseado na obra homônima de Monteiro Lobato (1882-1948); e O Escaravelho do Diabo (2016), da escritora Lúcia Machado de Almeida (1910-2005). Já entre os estrangeiros, há A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971, que teve um remake em 2005 feito por Tim Burton), do autor britânico Roald Dahl (1916-1990); A História Sem Fim (1984), do alemão Michael Ende (1929-1995); e Jumanji (1995), do estadunidense Chris Van Allsburg, que é a obra literária na qual esta obra cinematográfica se baseia.
Um homem encontra na praia o jogo Jumanji e o dá de presente para seu filho adolescente, que acha jogos de tabuleiros chatos, pois gosta mesmo é de vídeo games. De repente, aparece um cartucho de vídeo game também chamado Jumanji. O garoto coloca o cartucho no console e algo incrível acontece.
Vinte anos depois, quatro adolescentes chamados Spencer (Alex Wolff, de O Dia do Atentando), Fridge (Ser'Darius Blain, de Além da Escuridão - Star Trek), Bethany (Madison Iseman, da série de TV Harry Danger) e Martha (Morgan Turner, de Sem Fôlego) cumprem castigo escolar por delitos diversos limpando uma velha sala de sua escola.
Durante a limpeza, encontram um velho vídeo game chamado Jumanji e decidem jogar. Cada um escolhe o seu personagem e quando o jogo se inicia, todos são transportados para dentro do video game assumindo a aparência dos personagens que escolheram: Spencer torna-se o Dr. Smolder Bravestone (Dwayne Johnson, de O Escorpião Rei), Fridge torna-se Moose Fibar (Kevin Hart, de Policial em Apuros), Bethany torna-se o Professor Shelly Oberon (Jack Black, de Escola de Rock) e Marta torna-se Ruby Roundhouse (a escocesa Karen Gillan, da franquia Guardiões da Galáxia).
Ao assumirem as aparências de seus personagens, também assumem as suas habilidades, que devem usá-las para chegarem ao final do jogo e voltarem para casa. Mas, para isso, correrão muitos perigos.
A primeira adaptação de Jumanji, lançada em 1995, dirigida por Joe Johnston (de Capitão América, o Primeiro Vingador) e estrelada por Robin Williams (O Homem Bicentenário) foi recebido com frieza pela crítica, mas foi sucesso de bilheteria, gerou uma série de desenho animado que durou três temporadas e muitos achavam que logo viria uma sequência. De fato, ela veio, mas levou muito mais tempo do que se imaginava e, até o momento em que esse texto foi escrito, por motivos não muito claros.
Mas a espera valeu a pena. Jumanji: Bem-Vindo à Selva surpreendeu a crítica que, desta vez, fez elogios calorosos, o público novamente correspondeu, e se tornou o sucesso-surpresa da temporada. Um dos motivos é por ser uma sequência que pode ser vista sem ter obrigatoriamente ter visto o primeiro filme embora haja uma menção que liga um ao outro e que, ao mesmo tempo homenageia o falecido e saudoso Robin Williams.
O ritmo do filme é ótimo, não dando nenhuma chance para a monotonia. É mesmo um clima de vídeo game com fases (uma mais difícil que a outra), personagens com poderes e/ou habilidades próprias ajudando-se uns aos outros e "vidas" de cada um desses mesmos personagens que devem ser preservadas para poder chegar ao final do jogo.
Aliás, quando os personagens perdem a "vida"e ganham outra, são das cenas mais engraçadas do filme. Mas, os pais não precisam se preocupar, pois as cenas de violência são como as de um desenho animado - e, no caso de Jumanji, de vídeo game.
Filho do também diretor Lawrence Kasdan (Silverado), Jake Kasdan (A Vida é Dura: A História de Dewey Cox) é um diretor competente e, em Jumanji: Bem-Vindo à Selva, recupera-se de seus dois filmes anteriores que foram mal tanto de público quanto de crítica: Professora Sem Classe (2011) e Sex Tape: Perdido na Nuvem (2014). Aqui, mostra sua competência tanto na direção de atores quanto nas cenas de ação e humor, bem mescladas e movimentadas.
Dwayne Johnson mostra a cada filme que faz que não é apenas um cara musculoso, mas também um bom ator! Sabe ser dinâmico, convincente e engraçado, o que o põe em um patamar acima dos outros astros de filmes de ação.
Jack Black confirma ser um dos melhores comediantes da atualidade, e também muito simpático. O seu personagem, Shelly Oberon, é muito bem montado, com trejeitos afeminados que parecem gays, mas que, na verdade, são de uma garota namoradeira dentro de um corpo masculino e, que ainda assim, atingem um vasto público de gêneros diferentes.
Em contrapartida, não gostei do personagem de Kevin Hart: presunçoso, reclamão, antipático e com pouca graça. Não é propriamente culpa de Kevin e, sim, mais dos roteiristas que o criaram.
Karen Gillan é bonita, boa atriz e igualmente tem um personagem bem construído: o da menina tímida que vai se soltando aos poucos, tanto que tem algumas das melhores cenas de luta do filme.
O elenco adolescente (Alex Woff, Ser'Darius Blain, Madison Iseman e Morgan Turner) é igualmente simpático e bem escolhido. Embora sejam de personalidades clichês - o nerd, o atleta, a gostosa, a envergonhada - são também bem interpretados. Já o cantor Nick Jonas (do grupo Jonas Brothers) é meio "sem sal". Poderiam ter escolhido alguém melhor.
Com exceção dos personagens de Kevin e Nick, o roteiro escrito a oito mãos por Chris McKeena (Homem-Aranha: De Volta ao Lar), Scott Rosemberg (Canguru Jack), Jeff Pinkner (A Torre Negra) e Erik Sommers (série American Dad), consegue ser fiel ao do primeiro filme e até o supera.
A trilha sonora de Henry Jackman (Kong: A Ilha da Caveira), que substituiu de última hora a James Newton Howard (franquia Jogos Vorazes), consegue dar o clima "de selva" ao filme, que foi quase todo feito no Havaí e cujas lindas paisagens foram muito bem fotografadas por Gyula Pados (franquia Maze Runner).
Jumanji: Bem-Vindo à Selva é uma agradável surpresa, tendo se tornado a segunda maior bilheteria do ano (perdendo apenas para Star Wars: Os Últimos Jedi) com toda a justiça. Quem for assistir não vai se arrepender e se divertirá muito. E como diz a letra a música da banda de Hard Rock Guns 'n' Roses, Welcome to The Jungle, que inspirou o título do filme:
Welcome to the jungle! We've got fun and games!
Bem-vindo à selva! Temos diversões e jogos!)