Na qualidade de neto do jornalista, advogado, empresário, embaixador, senador e imortal da Academia Brasileira de Letras Assis Chateaubriand – também conhecido por “Chatô” – venho esclarecer o seguinte, a respeito da notificação extrajudicial ingressada e sobre as declarações prestadas pelos Srs. Fernando Morais e Guilherme Fontes.
1) O filme “Chatô, o rei do Brasil” vem sendo, desde o início da captação de recursos por Fontes, há 20 anos, até sua estreia, apresentado ao público como uma cinebiografia. Foi para isso que o ator-cineasta requereu e conseguiu captar cerca de 80 milhões de reais de dinheiro público corrigidos em moeda de hoje. No entanto, admite que fez uma obra de ficção. Que se opõe à ideia de biografia retratada por filme (cinebiografia). Isto é: durante duas décadas o referido senhor recebeu verbas públicas, se envolveu nas mais diversas polêmicas, para, se desviando do Projeto registrado no Ministério da Cultura, entregar uma coisa em lugar da outra. O que certamente será objeto das competentes investigações pelos Órgãos administrativos que o processam para que devolva o dinheiro recebido.
2) A obra fictícia do Sr. Fontes contém cenas injuriosas, difamatórias e caluniosas tendo como alvo meu avô, despejando sobre o público episódios jamais ocorridos. Meu avô nunca sacou “peixeira” contra Getúlio Vargas, cena inserida não só no filme como no trailer de divulgação. Ademais, no roteiro que apresentou à ANCINE, a que tivemos acesso anteriormente, desfila uma lista incrível de impropérios contra o “biografado”, inclusive discriminatórios – pelo fato de ter origem nordestina -, assim demonstrando que o retratante – e detratante - sempre foi hostil ao “retratado”.
3) De mais a mais, declarações prestadas pelo mesmo há anos e por jornalistas que cobriram as filmagens, foram no sentido de que a trama de Fontes reescreve a história do Brasil, mostrando um Getúlio assassinado. O que também absolutamente não procede. E mais: em entrevistas de que guardo cópia, é dito que uma cena retrataria a mão de determinada pessoa – que o filme sugeriria ser meu avô – puxando gatilho do revólver com que Getúlio se suicidou. Mão essa que não é a do próprio Presidente. No mesmo sentido, críticos que assistiram o filme deturpado já testemunharam que meu avô é mostrado por Fontes como “um pedófilo”. São as calúnias dotadas de alto grau de sordidez.
4) O filme deturpa totalmente a história ímpar de meu avô, que liderou mais de 120 Campanhas cívicas de âmbito nacional, escreveu mais de 15.000 artigos, largou seus jornais para lutar como revolucionário em 1930, enfrentou ditaduras, tentou elevar o nível cívico das elites brasileiras e contribuir para o desenvolvimento do País.
5) Há muitas formas de ditadura e de censura. Usar o prestígio e poder econômico para impor determinadas formas de ver as pessoas sem que estas tenham possibilidades de se defenderem por não terem mesmo espaço na mídia é uma forma de ditadura e censura. Houve tempo em que o regime militar queria nos fazer crer que os comunistas comiam criancinhas, e é algo parecido que estão tentando fazer com a memória de meu avô. Sempre houveram tentativas de impor ideologias ou versões mentirosas acerca de pessoas e grupos para servir escusos objetivos de poder e manipulação da opinião pública. No que tange às falas de Morais, alçado ao papel de “advogado de defesa” de Fontes, sou absolutamente contra a censura, e não vejo sob esse rótulo o aviso às salas cinematográficas de que há crimes contra a honra e adulteração da verdade cometidos por filmes que estão prestes a exibir. Pedi a suspensão das exibições até que Fontes e os co-roteiristas excluíssem as cenas inverídicas e caluniosas. Mas não é só. Penso que, nesse momento em que lutamos por mudanças no país, temos que acabar igualmente com o esquema mercantilista de difundir mentiras e difamações para ganhar dinheiro, expediente em que, infelizmente, se aventuram algumas pessoas famosas, protegidas e dotadas de algum poder, que deveriam, pela projeção adquirida, respeitar a verdade e a honra alheia como devem proteger a sua própria. Que se acham portadores de uma espécie da “carta branca” para deturpar, enganar, adulterar ou “ficcionar” (um mero eufemismo para mentir sobre a vida alheia).
6) Gostaria que todos os leitores se pusessem em nosso lugar. Imaginemos outro filme, parecido, que se pretende exibir em todo o país, com o glamour de excelentes atores globais, tendo ainda o suporte de tecnologia e recursos de primeira linha. Imaginem o espanto de ver que seu pai ou avô, retratado pelo filme, no lugar de homenageado pelos mais de 120 feitos em prol do Brasil, é apontado como mau caráter, violento e pedófilo... como alguém desprezível e, pasme-se, “mais violento que Lampião” (como chegou a escrever Fontes no roteiro registrado junto à Ancine).
Como ficariam, depois disso, suas vidas? Deixariam que seus parentes mais caros fossem enxovalhados por uma turma de polêmicos indivíduos? E como ficariam as relações com amigos e familiares? Como ficariam suas relações no trabalho? Como ficariam seus filhos na escola?
7) Eu, minha família e filhos, já sofremos calados, anteriormente, diversos constrangimentos por conta desta suspeita ênfase nas inverdades a respeito de meu avô. Já lamentamos muito o processo orquestrado e sistemático de minimização de seu valor e papel decisivo, impulsionando em várias áreas o progresso do Brasil, de suas incontáveis ações que beneficiaram o povo brasileiro bem como o seu patriotismo inegável.
Muitas coisas tentaram esconder, por vezes inventando fatos, distorcendo outros, ora interpretando-os, bem como as intenções por detrás deles, à sua maneira, em recentes obras audiovisuais e literária, como no livro de Fernando Morais, e demonstrando suspeita e persistente má vontade em recuperar a mentalidade genial, tenaz, empreendedora e visionária que estava por trás de quase tudo que ele fez.
Temos provas de várias inverdades e distorções no próprio livro pretensamente “biográfico” feito por esse último. Uma biografia de verdade reclama uma imparcialidade científica ou jornalística, que não foi pretendida obviamente. Meu avô já teve mais de 13 biógrafos insuspeitos, ao contrário dele. As obras estão pelas livrarias e sebos brasileiros. Mas ainda está à procura de um definitivo, que conte sua história sem interesses comerciais ou influências estranhas ao ato de biografar.
8) E, nesse ensejo, lamento também a mentira retumbante que, a cada edição, Morais destaca, estrategicamente, ao final de seu livro, apresentando os condôminos dos Diários Associados como grandes beneméritos, omitindo o fato de terem, no período de 40 anos, extinto ou vendido mais de 80 empresas que lhes foram doadas sob condições por meu avô, em uma das maiores extinções e dilapidações em massa de empresas de comunicação que se tem notícia no
mundo. Mais um triste recorde para o nosso maltratado Brasil.
9) Apesar do poder que ainda mantém os indivíduos citados no presente esclarecimento, não esmoreceremos até que a verdade total – inclusive sobre outros fatos tão graves quanto – apareçam e sejam conhecidas em sua plenitude.
Cordialmente,
Philippe Barrozo Bandeira de Mello.