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    Procurando Dory
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Procurando Dory

    Velhos amigos em uma nova jornada

    por Francisco Russo

    Procurando Nemo é um dos filmes mais queridos dentre os produzidos pela Pixar, e é fácil entender o porquê: há a jornada de fácil identificação envolvendo um pai à procura do filho, coadjuvantes carismáticos, um roteiro que sabe explorar características do fundo do mar, uma animação belíssima e, é claro, Dory e seu baleiês. Pois é justamente ela a protagonista desta continuação tardia, lançada 13 anos após o original e dirigida pelo mesmo Andrew Stanton. O que isto muda? Simbolicamente, muito. Na prática, bem pouco.

    Logo de início é possível perceber a mudança estrutural implementada em Procurando Dory: o filme começa com um flashback, com a pequenina peixinha desmemoriada ao lado de seus pais e aprendendo a lidar com seus constantes esquecimentos. Além de situar historicamente a nova protagonista, a abertura serve ainda para correlacionar esta sequência com o filme original. É quando sabemos que a nova aventura se passa exatamente um ano após o resgate de Nemo.

    A presença dos flashbacks é importantíssima neste novo filme: é através deles que Dory, aos poucos, recebe pistas sobre quem foram e aonde estão seus pais. Além de lidar com o passado de forma explícita, Procurando Dory inverte a proposta vista no filme original: se antes um pai superprotetor partia desesperadamente em busca do filho, agora é a filha quem está à procura dos pais. Em ambos os casos, a necessidade de ter a família ao redor é a motivação principal - lembre-se, Pixar é uma empresa Disney, com todos os méritos e deméritos que isto traz. Só que, se Procurando Nemo brilhava pela originalidade, sua continuação mostra-se extremamente dependente dos elementos já conhecidos pelo grande público.

    É claro que questões com o baleiês e o constante esquecimento de Dory marcam presença mais uma vez, assim como o ar sempre preocupado de Marlin, agora relegado ao posto de coadjuvante (e por vezes esquecido na própria história, juntamente com Nemo). Personagens conhecidos, como a tartaruga com jeitão hippie, aparecem em pequenas pontas. Por mais que tais ideias até rendam algumas sequências divertidas, soam sempre como algo requentado. Insiste-se na mesma piada, mudando apenas o contexto em que é apresentada.

    Tamanha dependência fica ainda mais explícita pelo fato dos novos personagens não se destacarem tanto. Se o octopus Hank até tem um lado interessante pela dubiedade de postura, fica também escancarado que sua escolha teve muito a ver com a necessidade de locomoção fora d'água da própria Dory (em malabarismos que nem sempre convencem, diga-se de passagem). O roteiro também mostra-se preocupado em instruir os menores acerca da fauna marinha, como demonstram curiosidades biológicas espalhadas aqui e ali e a presença da beluga Bailey, com seu poderoso "sonar natural". Ou seja, existe uma preocupação constante em divertir e também em transmitir mensagens, sejam elas emocionais - ligação com a família - ou educacionais - a ambientação no aquário da California é mais um exemplo.

    Original mesmo, Procurando Dory é em apenas dois momentos: na brilhante sequência do "tanque de tocar", onde a realidade é apresentada sob a ótica dos seres que lá vivem (uma inversão de ponto de vista semelhante à do aquário no escritório, em Procurando Nemo); e no contraste formado pela tubarão Destiny e a já citada Bailey, envolvendo questões de visão. No mais, são as mesmas situações já conhecidas, apresentadas por uma qualidade de animação impressionante - repare na diferença de luminosidade no fundo do mar, dependendo da profundidade em que os personagens estão.

    De certa forma, Procurando Dory lembra conceitualmente Universidade Monstros: um filme até divertido, com personagens carismáticos e de grande apelo junto ao público, mas sem a originalidade que fez com que a Pixar fosse tão admirada ao longo dos anos. Soma-se a isto o fato do roteiro se apropriar de vários facilitadores no terço final, resolvendo situações com uma fragilidade que chega a surpreender, negativamente. Bom filme, com grandes chances de ser mais um sucesso de público, mas que também não avança muito dentro do que a Pixar já pôde fazer.

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