Um filme envolvente, que já se inicia expondo os abusos aos quais as mulheres negras eram submetidas (quiçá ainda são, tendo em vista o longa "Preciosa - Uma História de Esperança"). É interessante como o longa desmistifica o estereótipo do negro (nesse caso, exclusivamente, o sexo masculino) martirizado no início do séc. XX e revela que o mesmo escraviza seus iguais. Aqui, o sexo masculino se revela dominador, possuidor de uma mercadoria que ora é negociada, ora descartada. Essa mercadoria, que vem a ser a mulher, é inserida em um mundo, que se chama matrimônio, mais parecido como uma relação patrão - empregada doméstica estilo cama, mesa e banho (com direito a alguns golpes de UFC). A narração, as vezes presente, similar ao início de uma carta ("Querido Deus..."), é a única forma da personagem externar seus sentimentos. Com belas atuações, um destaque vai para Oprah Winfrey, que em momentos engraçados ou dramáticos, soube cativar e tocar o espectador. Para aliviar a trama forte, Spielberg inseriu sutis momentos de humor ao longa, o que deus um toque de esperança e beleza nas simplicidades do contexto vivido. Com uma fotografia belíssima e atuações dignas de Oscar (o que, injustamente, não se concretizou), "A Cor Púrpura" é um belo e triste relato sobre a condição da mulher, promovendo debates que vão além das telas de cinema.