Poxa, que decepção... Linklater, dessa vez, não errou feio, mas cometeu alguns equívocos. Ou talvez seja tudo questão de perspectiva. Entretanto, não acho que o filme todo possa ser salvo por isso. Isso tudo porque Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol são duas verdadeiras obras-primas, mas Antes da Meia-Noite infelizmente, fica bem abaixo.
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Não acho que o casal foi estragado, mas existem algumas passagens que poderiam sequer existir no filme. A cena na mesa me irritou profundamente. A necessidade desse roteiro de ter e, principalmente, MOSTRAR os personagens coadjuvante é uma verdadeira lástima. Pra quê? Os outros filmes funcionam tão perfeitamente ao focar em apenas Jesse e Celine, por quê, a essa altura do campeonato, inserir personagens a mais só pra situar os dois protagonistas em sua história na Grécia? Completamente desnecessário. Aliás, a cena do almoço foi uma das coisas mais aborrecidas do filme.
São coisas como essa que me fazem tirar alguns pontos do terceiro filme da franquia do Linklater, Delpy e Hawke. Ainda que o roteiro faça conexões o tempo todo com as cenas iniciais, algumas coisas são verdadeiramente irritantes. Passado o choque inicial de saber que Jesse não foi ao aeroporto em 2004 e resolveu ficar com Celine, a história, enfim, pode se desenvolver bem.
O conflito de casal, a deterioração de um relacionamento que é mostrada aqui se coloca em choque com uma pergunta que casais têm que encarar diariamente, e então, podemos ver a real intenção desses realizadores ao trazer esse filme à tona. Mesmo assim, senti que a história dos filmes anteriores, a história do passado foi um tanto quanto negligenciada por Celine e Jesse. E isso antes de começarem a brigar - mas talvez seja apenas efeito da previsão de Celine no carro, em uma das primeiras sequências.
Com o tempo, o filme melhora. Entramos na vibe atual dos protagonistas, e, finalmente, podemos curtir os diálogos, que também melhoram com o tempo. Tanto Celine quanto Jesse têm sua parcela de culpa nesse desgaste e a todo momento, as situações são expostas, de forma bastante coesa. E termina bem. Ainda que em alguns momentos possa ser visto alguns defeitos de montagem, como numa mudança de ângulo durante a cena da discussão no Hotel de Jesse e Celine, em que a iluminação visivelmente sofre um contraste gigante.
No entanto, senti que o filme não foi muito original. Se os dois primeiros são duas obras que influenciaram diversas outras, esse aqui parece ter chupinhado várias predecessoras que trataram do mesmo assunto. A impressão que tenho é que Linklater, Delpy e Hawke viram Namorados Pra Sempre ou Cenas de um Casamento, e resolveram se inspirar em tais filmes pra trazer ao universo criado por eles pra Jesse e Celine 18 anos atrás. E, me digam, pra quê tantas piadas sem graça de cunho sexual? Isso me lembra, profundamente, "2 Dias em Nova York", ultimo filme, apenas bom, escrito e dirigido pela Julie Delpy que usa e abusa desses mesmos subterfúgios pra fazer graça.
E isso me deixa ainda mais com a certeza de que essa saga não vai acabar aqui. A degradação da relação amorosa voltará a ser filmada, e da próxima vez que pudermos encarar Jesse e Celine vamos vê-los se encontrando após uma dolorida separação. E eu espero que daqui a 9 anos, quando a continuação vier, que chegue reencontrada e de volta nos eixos. Espero, profundamente, que surja com muito mais da essência que os dois primeiros filmes tinham pra dar e vender.
PS: Apesar de tudo isso, é aqui o melhor momento de Delpy e Hawke como atores em toda a trilogia. Irrepreensíveis.