Van Damme está de volta em mais uma produção em que vemos um misto de artes marciais e explosões, dessa vez mais maduro e nessa película de ação cheia de heroísmo. Esse militar que erra em uma operação de combate a rede de tráfico sexual de adolescentes, quando ao explodir o local acaba por acidente matando crianças, se vê frustrado na vida. É o drama dos ex-combatentes, no caso da guerra do Afeganistão, especialista em matar. Assim o personagem Gaul está em grande angústia, trabalhando em um açougue e alcoólatra, chorando as mágoas da vida. Quando surge uma nova chance de se tornar herói e ajudar um casal, cuja filha adolescente foi raptada por essa quadrilha de tráfico sexual, pedindo sua ajuda. O pai da menina é lutador de MMA e acaba ajudando na missão de Gaul (Van Damme). Isso nos leva muitas vezes para a imagem de Hércules, que não tem morada nem entre os Deuses, e nem entre os homens.
Sempre que lembro desse ator belga, Gean-Claude Van Damme me vem aquela imagem heroica do filme “O Grande Dragão Branco”, que qualquer menino gostava de assistir na TV nos anos 80/90. O ator é campeão europeu de karatê, e ainda fisiculturista. Também foi dançarino de balé, e por isso da desenvoltura dos golpes naqueles filmes antigos. Parece ser em muito um arquétipo da virilidade e do homem mais forte do mundo, um Hércules. Mas Van Damme mistura uns 4 estilos de artes marciais (kickboxing, taekwondo, muai thay e karatê shotokan), de modo que tem um estilo próprio. Nesse filme das seis balas mostra mais talentos bélicos que marciais. E marcial vem de Marte, que é deus Ares (Greco-Romano), deus da guerra.
O filme tem uma novidade no roteiro, começando por um drama e repetindo o mesmo, sendo que nos perdemos pensando que o protagonista desista de sua missão heróica, ao aparentemente falecer cruelmente a menina. Fato é que por inteligência ele descobre que foi outra que foi assassinada, e assim teve uma terceira chance de se recuperar. Poderia ser 12 chances, como foram os doze trabalhos de Hércules. Claro que no lugar da deusa sombria Hera e de monstros como o cão Cérbero, de três cabeças, ele achou os monstros humanos na sua tara por exploração sexual. E Gaul assim se redime consigo mesmo, nesse ato heroico de salvar a liquidar os criminosos, usando da força e da bala, sem qualquer misericórdia. De interesse é a colaboração dos pais da menina, que corajosamente vão junto ao militar para a batalha a fim de salvar a filha. O filme é muito bom e tem cenas eletrizantes de ação e não se foca muito nas lutas, tendo assim certa naturalidade e realismo, ainda mais com a questão do tráfico de mulheres para exploração sexual, realidade cruel mundial. O Hércules belga acaba assim com essa folia e manda todos para seu devido lugar, numa pena de morte e justiça privada, uma vez que crime envolve postos de poder no governo. Um filme diferente desse ator, reservando sempre a sua imagem de bom moço e grande lutador. O Hércules que encontra o Olimpo de seu ideal e vence os monstros dos vícios e da angustia. Mariano Soltys, autor do livro Filmes e Filosofia, pela editora AGBook