"Êxodo: Deuses e Reis", de Ridley Scott, é um excelente filme que, para variar, foi incompreendido pela maior parte da crítica brasileira. É uma obra inovadora que humaniza as histórias bíblicas, retirando a magia e introduzindo a natureza e a psiquê como protagonistas e como os verdadeiros instrumentos da ação divina. Assim é que Moisés (Christian Bale) um eficiente general egípcio, amado por Seti (John Turturro), o faraó, e integrado à corte egípcia descobre que sua vida não passou de uma mentira e que, na verdade, é parte da prole de um povo escravizado pela sociedade que admira e à qual defende. Exilado, possivelmente pelo ciúme que despertava no herdeiro do trono, Ramsés (Joel Edgerton), vê-se obrigado a rever os seus paradigmas e então decide tornar-se ele próprio o instrumento da libertação do seu povo. E é então que Scott apresenta a maior inovação nas leituras cinematográficas dos episódios bíblicos: a própria vontade de Moisés de exercer o protagonismo que lhe foi cerceado com o exílio é personificada através de uma criança voluntariosa, com a qual dialoga para por em prática a missão que se auto impôs, restando à Natureza e ao Universo (observe os figurinos do menino para verificar a associação deliberada ou não com as mitologias orientais, como o budismo, que associam vontade e natureza) o papel de coadjuvantes para que ele ponha em prática o seu plano e, afinal, liberte o seu povo da escravidão, sem magia, valendo-se de um recurso que projeta essa vontade e fé realizadora em um alter ego infantil, algo que a crítica nacional e estrangeira interpretou erroneamente como a representação divina na forma de "um deus menino autoritário e cruel". O diretor cogita: seria o voluntarismo pueril e infantil o verdadeiro motor da fé, não como simples esperança, mas como poder realizador? Sem dúvida, uma obra cinematográfica inovadora, equilibrada e eficiente na transmissão de sua mensagem a quem quiser prestar atenção.