Um dos mais celebrados escritores norte-americanos da atualidade, Nicholas Sparks tem dezessete livros escritos, dos quais oito receberam adaptações cinematográficas – algumas, foram sucessos estrondosos, como “Um Amor para Recordar” e “Diário de uma Paixão”. Ciente de que seus livros possuem um apelo enorme com o público em geral, especialmente com o feminino, por causa da natureza romântica de seus relatos, Sparks decidiu, desde “A Última Música” (obra que marca sua estreia como roteirista de um longa-metragem), ser um pouco mais cuidadoso com as adaptações cinematográficas dos livros que ele escreveu. “Um Porto Seguro”, filme dirigido por Lasse Hallström, é o segundo em que o escritor tem uma participação mais ativa nos bastidores, atuando como produtor.
“Um Porto Seguro” tem como base o 16º livro escrito por Nicholas Sparks e segue a história de Katie (Julianne Hough), uma jovem que esconde um segredo do seu passado e que se muda para a pacata cidade de Southport, onde acaba conhecendo e mudando por completo a rotina de Alex (Josh Duhamel), um jovem viúvo, empresário do comércio local e pai de dois filhos chamados Josh (Noah Lomax) e Lexie (Mimi Kirkland). A ideia central por trás do relacionamento que se desenvolve entre Katie e Alex é muito simples e envolve o conceito de que era quase improvável que ela encontraria o porto seguro (para fazer uma referência direta ao título do longa) dela numa cidade como Southport, que tem a característica principal de ser um ponto de chegada e de partida para pessoas que estão indo para outros lugares. Um outro detalhe importante a perceber ainda relacionado a esta questão é que Southport, com suas casas bem distantes umas das outras, favorece bastante ao desejo de distanciamento emocional que permeia, por exemplo, os caráteres de Alex e Katie antes de eles se reabrirem ao encontro um com o outro.
Na forma como é desenvolvida a narrativa pelo roteiro escrito por Leslie Bohem e Dana Stevens, “Um Porto Seguro” é um filme que revela aqueles típicos clichês dos livros de autoria de Nicholas Sparks. Seus personagens costumam estar passando por um momento de transição e isolamento emocional, em que o encontro com outras pessoas é necessário para fazer com que eles se reabram para a vida em si. Neste sentido, o elemento mais recorrente no universo narrativo de Nicholas Sparks é o retrato de um momento em particular da vida de pessoas que possuem muito medo de se entregar a alguma coisa – em decorrência de um motivo muito importante que nos é revelado, normalmente, no ato final de cada trama.
Entretanto, um dos pontos mais positivos de “Um Porto Seguro” é justamente nos reservar uma surpresa para o ato final. Quando falamos em surpresa, nos referimos ao caminho optado por Nicholas Sparks para a finalização da sua trama – talvez, ele tenha sentido que suas conclusões narrativas estavam se repetindo por demais; ou talvez, ele tenha cansado de fazer as pessoas terminarem seus livros/adaptações chorando rios de lágrimas. Apesar de o final ser surpreendente para os padrões de Nicholas Sparks, “Um Porto Seguro” não deixa de ser um filme clichê, bem água com açúcar, que apela diretamente para a emoção do espectador (apesar do seu jovem casal de protagonistas, diga-se de passagem, não conseguir nos cativar por completo, muito em parte por causa da limitação deles como atores). Ou seja, o tipo de filme perfeito para um diretor como o sueco Lasse Hallström, que, nos últimos quatro anos, chama a atenção por se envolver em longas que são o puro reflexo da máquina hollywoodiana e seu poder de podar a criatividade de profissionais como ele.