Feito à medida para a plateia – e não para desafiá-la
por Renato HermsdorffSe um filme é reflexo do seu tempo, faz sentido a nova versão de Sete Homens e Um Destino ser lançada em 2016, do jeitinho que está. Isso porque, para o bem e para o mal, o remake do faroeste homônimo de John Sturges de 1960 (por sua vez, uma releitura de Os Sete Samurais, de 1954), em relação aos “originais”, atualiza a trama com questões pertinentes aos dias atuais, ao mesmo tempo em que parece feito à medida para a plateia – e não necessariamente para desafiá-la.
Em tempos de "inclusão" e "diversidade", o longa de Antoine Fuqua (Dia de Treinamento) traz quatro tipos (numericamente superiores, portanto) não-caucasianos entre os sete do título, sendo um oriental (Byung-Hun Lee), um descendente de indígenas (Martin Sensmeier) e um latino (Manuel Garcia-Rulfo, no papel que seria de Wagner Moura), todos sob a tutela de um negro, Sam Chisolm (Denzel Washington).
Diferente do clássico dos anos 1960, dessa vez, não são os mexicanos que sofrem com os ataques do vilão ganancioso (papel assumido aqui por Peter Sarsgaard), mas americanos natos. E quem tem colhões de fazer algo e dar início ao recrutamento da trupe para defender a vila é... uma mulher, a personagem de Haley Bennett (O Protetor) - a ca-ra de Jennifer Lawrence aqui - que, diferente das donzelas do gênero, põe a mão na massa, ou melhor, nas armas.
Resulta que essas opções não apenas dão voz a outras representatividades (o que alguns ainda acreditam se tratar de “mimimi”), ao mesmo tempo em que, caso ainda não esteja convencido(a), conferem um mínimo de originalidade para uma obra que já o remake de um remake. Ponto para o filme, cuja primeira metade (lá se vai uma hora de projeção) foca na formação do grupo. Mesmo reunindo (ou por causa da reunião de) personalidades tão díspares, é divertido ver o nascimento da gangue.
Apesar desse ser o primeiro faroeste no qual a unanimidade Denzel atua, vê-lo fazer cara de “mau” e atirar por aí não exatamente uma novidade. E dada a repetição do tipo, pode soar como um desgaste para a plateia. O destaque acaba ficando com o “bom” e o “feio”. Não que o primeiro, Josh Farraday (Chris Pratt) seja um santo; não que vê-lo sacar uma piada no meio de uma situação tensa seja novidade. Mas dada a unanimidade do sucesso do tipo irônico de Star-Lord (Guardiões da Galáxia), que ele repete aqui – é como ver Peter Quill fantasiado de cowboy –, o ator rouba a cena, como era de se esperar. A surpresa é o segundo. Vincent D'Onofrio está envelhecido, quase irreconhecível no papel de Jack Horne, um adorável ranheta.
A segunda fase (mais uma hora de filme), apesar de um belo take aqui, outro ali, segue como uma interminável e enfadonha cena de batalha. Lutas e mais lutas que pouco ou nada contribuem para o andamento da narrativa. E é aí que The Magnificent Seven (no original) se mostra tão datado quanto a política romana do “circo”. Há quem se sinta confortável no meio do tiroteio, claro; mas provavelmente se esquecerá do filme assim que jogar o saco de pipoca no lixo.
Filme visto no 41º Toronto International Film Festival, em setembro de 2016.