Sabe aqueles cineastas que de tão talentosos te fazem querer ver todos os seus filmes independentemente de qual seja o assunto de suas obras? Pois bem... Esses diretores são artigos raros. Uma seleta lista onde, pelo menos na minha, Wes Anderson tem lugar garantido ao lado de Aronofsky, Tarantino, Scorsese, Paul Thomas Anderson e Almodóvar, por exemplo. Para quem conhece um pouco da obra deste diretor, basta assistir a uma cena, ou as vezes nem isso, para identificar seu estilo bem próprio de fazer cinema. Aqui, ele faz o seu filme mais elogiado desde o premiado, excepcional e já longínquo Os Excêntricos Tenenbaums (de 2001), embora desde então tenha feito obras não menos incríveis como Viagem a Darjeeling (2007), O Fantástico Sr. Raposo (2009) e Moonrise Kingdom (2012). Em seu novo filme, Anderson continua nos brindando com histórias extravagantes, cores fortes, enquadramentos geniais, e , principalmente, personagens extremamente peculiares e cativantes, embora bizarros. A espinha dorsal do filme é relativamente simples, mas o desenvolvimento diferenciado de Anderson faz com que o filme tenha charme e criatividade únicos. Um autor (Tom Wilkinson) começa o filme descrevendo seu livro, onde narra os episódios de quando fora ao Grande Hotel Budapeste e encontrou seu enigmático dono contando como chegou àquele lugar, principalmente narrando sua amizade com o influente M. Gustave (Ralph Fiennes, em atuação inspirada), envolvendo aí um testamento polêmico, o roubo de uma valiosíssima obra de arte, cárcere, perseguição e muitas outras situações inusitadas. A narrativa de Anderson em seus filmes é bem diferenciada e além da estética marcante de seus filmes, ele sempre trata a comédia com um tom bastante próprio e fantástico. O desenvolvimento dos personagens (sempre em grande número, onde os secundários têm passagens rápidas, mas precisas) é bastante explorado. Aliás, são esses personagens excêntricos e numerosos que atraem tamanho número de amigos e colaboradores do diretor, que costuma sempre balancear atores com quem trabalha frequentemente com outros com quem trabalha pela primeira vez e acaba usualmente reunindo um elenco estelar, que aqui conta com os nomes de Bill Murray, Jason Schwartzman, Willem Dafoe, Owen Wilson, Edward Norton, Tilda Swinton (irreconhecível e brilhante aqui), Harvey Keitel, Jeff Goldblum, Adrien Brody, Ralph Fiennes, Mathieu Almaric (também ótimo em sua participação), Saoirse Ronan, Jude Law e F. Murray Abraham. Para juntar um elenco desse, com tantos rostos conhecidos e talentosos, o cara tem que ser bom mesmo. Fora Anderson, só o Woody Allen me vem a cabeça ao reunir elencos tão grandiosos em trabalhos tão bem realizados. O Grande Hotel Budapeste não é o melhor filme de Anderson, mas definitivamente é um filme excepcional, obrigatório para quem curte um cenário mais cult e alternativo que fuja dos blockbusters descerebrados, mas que ainda assim não é necessariamente um filme cabeça, reflexivo e chato, pelo contrário. Esse filme é um filme leve, descontraído e que não deixa de ter sua profundidade. Pode soar um pouco repetitivo para quem gosta do cineasta como eu, mas quando se tem o talento dele, ele pode se repetir à exaustão. Para quem não conhece o diretor, esse é filme bem interessante para começar a assisti-lo e procurar saber mais de sua filmografia. Se você já o conhece como eu, trata-se de mais um deleite saborosíssimo de como se fazer cinema de autoria sem ser chato, e com estilo apurado. De uma forma ou de outra, imperdível.