Despretensão em destaque
por Lucas SalgadoA Família é um filme bem curioso. Seu maior defeito e também sua maior qualidade: a despretensão. Trata-se de uma pequena produção, com algumas caras conhecidas que abraçam o overacting, ou seja, investem pesado na caricatura e no estereótipo. O que poderia atrapalhar muito um drama de gângsteres acaba servindo de escala para uma comédia razoável.
Dirigido pelo inconstante Luc Besson, sujeito capaz de realizar um longa ótimo como O Profissional e outro ruim como Joana D'Arc, Malavita (no original) conta a história da família de um ex-gângster (Robert De Niro) que tem que se mudar constantemente por causa de um programa de proteção à testemunha. Ele denunciou os antigos companheiros do mundo do crime, que continuam procurando por vingança.
Ainda que não seja um grande papel, De Niro se mostra muito confortável na pele Giovanni Manzoni. Ele retoma o tom cômico de obras como Máfia no Divã e Entrando Numa Fria, e não se mostra tão preguiçoso como nos recentes O Casamento do Ano e Noite de Ano Novo.
Os veteranos Michelle Pfeiffer e Tommy Lee Jones também integram o elenco caricatural. Ela é a esposa-troféu, mas que cresce com o andar do filme, enquanto ele é, pela milésima vez, o agente durão e mal-encarado.
A jovem Dianna Agron, de Glee, interpreta a filha do casal. A bela atriz surge como uma figura angelical, mas que se perde na insegurança do roteiro. Ela vai de uma menina forte à uma garota perdida após sofrer por causa de um grande amor.
Por sinal, o tal "grande" amor nasce e termina do nada, sem envolver ou interessar o espectador. Por outro lado, a dinâmica familiar agrada e ver De Niro como um gângster nunca é um total desperdício. O filme, inclusive, possui uma citação brilhante ao clássico Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese, que é produtor executivo de A Família.
Curiosamente, os dois momentos mais altos do longa são referências à obra-prima de Scorsese. O primeiro é a tal citação acima, enquanto que o segundo é uma referência visual. Ao vermos a família do protagonista tomada pela luz vermelha da luz de freio de um carro, é impossível não lembrar de Ray Liotta, Joe Pesci e o mesmo De Niro em Os Bons Companheiros. Como naquele filme, aqui o vermelho busca jugar todas aquelas pessoas no inferno. Todos abraçam a natureza violenta e não se arrependem.
Não é uma obra extraordinária, mas A Família está bem acima de tudo que Besson tem feito nos últimos anos, salvo produzir Busca Implacável. O roteiro tem bons momentos, o elenco está confortável e outros elementos como fotografia e trilha sonora são merecedores de elogios. É bem fácil imaginar tal filme sendo exibido repetidas vezes na Sessão da Tarde daqui a alguns anos.