Minha conta
    Encontros e Desencontros do Amor
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Encontros e Desencontros do Amor

    A piada sem fim

    por Bruno Carmelo

    O elemento que mais chama a atenção nesta comédia é o elenco impressionante. Paul RuddAmy Poehler interpretam os personagens principais, ao lado de alguns dos maiores especialistas do humor americano em atividade: Ellie Kemper, Bill Hader, Ed Helms, Cobie Smulders, Christopher Meloni, Melanie Lynskey, Kenan Thompson... Trata-se de humoristas pertencentes à mesma geração, acostumados a trabalhar juntos (para muitos deles, devido à experiência em Saturday Night Live), produzindo esquetes ácidas e politizadas. Por isso, quando este grupo se reúne para uma sátira aos clichês das comédias românticas, as expectativas são altas.

    Diante de tamanhos talentos envolvidos, é uma surpresa que Encontros e Desencontros do Amor seja um fiasco tão grande. Primeiro, porque nenhuma dessas pessoas foi envolvida no roteiro, o que configura um desperdício. Segundo porque, ao invés de subverter os estereótipos dos romances cinematográficos, o projeto apenas explicita seus códigos mais evidentes. Recentemente, Megarrromântico buscou virar a comédia romântica pelo avesso: a protagonista, geralmente uma garota de corpo escultural, cedeu espaço a uma atriz obesa; os cenários dos sonhos foram substituídos por bairros sujos etc. Tratava-se de uma quebra um tanto óbvia dos códigos, mas ainda assim, representava uma tentativa de explicitar, pelo exato inverso, o ponto de vista edulcorado das comédias românticas.

    O filme do diretor David Wain, no entanto, sequer se dá ao trabalho de romper com as expectativas. Sua narrativa se contenta em narrar o encontro amoroso entre Joel (Paul Rudd) e Molly (Amy Poehler) em flashbacks comentados por eles, despidos da emoção de presenciar os fatos acontecendo ao vivo, diante dos nossos olhos. A narração do casal repete o que as imagens descrevem, reforçando seu teor: quando algum jargão é utilizado (“Nossa, vejo que alguém teve um dia ruim!” exclama o gerente do bar diante do pobre apaixonado), ele é repetido literalmente uma dezena de vezes, até qualquer faísca de humor se perder no trajeto. Wain parece acreditar que a simples consciência metalinguística – ou seja, o fato de admitir que as regras do cinema não se parecem com a vida real – basta para tornar a trajetória dos personagens interessante e inteligente. No meio deste percurso, lança algumas piadas constrangedoras envolvendo uma fantasia com fezes, um cadáver no parque e um teste de fidelidade com a sogra.

    Encontros e Desencontros do Amor fracassa em cada tentativa de humor. O ritmo é lento demais, com cenas arrastadas pela montagem (isso dentro de uma produção de menos de 90 minutos), os enquadramentos não conseguem imprimir qualquer tipo de crítica ou sátira pela própria imagem, dependendo dos diálogos o tempo inteiro, e nenhum personagem ganha o mínimo aprofundamento, nem mesmo os protagonistas. Quando se descobre, na metade final, a obsessão de Molly por seu café ou da utopia empreendedora de Joel, estes fatores importam pouco, porque não condizem com a construção do filme até então. Os elementos que deveriam provocar atrito entre eles – a presença dos ex-namorados, o trabalho em empresas concorrentes – são simplesmente abandonados quando convém à trama. É difícil acreditar em qualquer reviravolta, ou mesmo no amor entre essas duas pessoas que, curiosamente, quase não se tocam ou demonstram qualquer afeto.

    Perto dos instantes finais, alguns astros da indústria como Michael ShannonJeffrey Dean Morgan aparecem para fazer participações especiais e engrandecerem o “valor de produção” da comédia. Mas terá sido tarde demais: o filme não está à altura de nenhum dos atores presentes, nem pelo texto, e muito menos pela direção e montagem. A comédia se assemelha a uma pequena esquete, que talvez funcionasse bem no SNL se não fosse esticada até a duração de um longa-metragem, sem jamais chegar a uma punchline. Desde Para Maiores (2013) o gênero paródico não viu um projeto tão desgovernado quanto este. O espectador deve se sentir cada vez mais como a pobre Karen (Ellie Kemper), envergonhada diante do longo relato do namoro, porém impedida pelos protagonistas de fugir antes do fim da história.

    Quer ver mais críticas?
    Back to Top