Talvez, mesmo que involuntariamente, o que mais prejudica este filme foi o título que recebeu no Brasil, que além de não ter traduzido nada bem o original ainda acaba confundindo o espectador com outro filme – Truque de Mestre (Now You See Me), também de 2013. Toque de Mestre parte de uma premissa um pouco inverossímel, mas consegue construir um bom suspense, gênero que definitivamente já consolidou a cinematografia da Espanha recentemente. O produtor deste Toque de Mestre, Rodrigo Cortés, já havia dirigido Poder Paranormal, um relativo sucesso de público. Mas é Mira quem demonstra um grande talento para o thriller.
Toque de Mestre é daqueles filmes que já começa na apresentação dos créditos – uma das melhores que vi nos últimos tempos, e que dá uma das pistas para entender o que realmente quer o vilão. Outra pista é lançada quando Tom Selznick (o pianista vivido por Elijah Wood) conversa ao telefone ao vivo com uma rádio, enquanto troca de roupa numa limusine a caminho do teatro onde irá se apresentar. Selznick é um jovem virtuose que sofre do que em inglês se chama “stage fright” - pânico do palco, após uma crise durante uma apresentação que abandonou, deixando o concerto inacabado. Passados alguns anos, ele se sente seguro emocionalmente para uma volta triunfal.
O diretor Mira se revela ele, sim, um virtuose do cinema. Sua câmera é ágil, e sabe muito compor as cenas com o ângulo e o movimento certo, o que aliado a uma montagem altamente eficiente produz alguns momentos de verdadeiro encantamento cinéfilo – Mira não tem o menor despudor em homenagear o estilo hitchcockiano. Abra-se um parêntese: a sequência em que a montagem corta do assassinato de Ashley para um plano-detalhe de um arco “cortando” um violoncelo é sensacional! Mas ao final há 2 grandes problemas com o filme, que o impedem de se realizar completamente, produzindo a obra-prima para a qual tinha um excelente potencial. O diretor Mira dá excessiva atenção à parte técnica, mas parece que esqueceu de trabalhar suficientemente o roteiro. Outro problema: provavelmente por uma falta de foco do diretor, não conseguimos como espectadores nos colocar “na pele” do protagonista, sofrendo com ele os tensos momentos por que passa. Wood convence fantasticamente como pianista, “dublando” no piano muito bem. Mas para alguém que já sofreu um colapso nervoso em uma apresentação apenas banal, o estresse a que está sendo submetido agora deveria transparecer em emoções mais à flor da pele.
Apesar desses deslizes, Toque de Mestre é, no final das contas, um eficiente thriller, de um diretor que não poupou esforços para utilizar com maestria os recursos básicos que o cinema tem a oferecer, extraindo deles o máximo possível. Não poderia deixar de falar na fantástica trilha sonora que Victor Reyes compôs, criando peças clássicas genuínas para o filme (destaque para a emblemática La Cinquette), mesmo que garimpando e arranjando alguns trechos a partir de conhecidos clássicos da música erudita.