O Planeta dos Macacos (1968), de Franklin J. Schaffner, é e sempre será um dos mais perturbadores e originais filmes de ficção científica da história. Adaptado da obra homônima do francês Pierre Boulle, em 1963, o filme chocou o público com seu teor apocalíptico em uma época em que o planeta vivia sob a ameaça de uma guerra nuclear e a corrida pela exploração e conquista espacial era intensa. Outro ponto que torna tão valiosa e influente esta obra é sua analogia com o comportamento do ser humano, bem como a sociedade em que ele está inserido. Considero uma das obras distópicas mais interessantes que foram transpostas para o cinema, juntamente com 1984 e A Revolução dos Bichos, de George Orwell – embora estas duas últimas mereçam uma adaptação cinematográfica de melhor qualidade.
Após o sucesso do primeiro filme, a história se multiplicou e se tornou uma franquia, com continuações e derivados, incluindo séries de TV e até desenhos animados, sem falar na legião de fãs que conquistou, com direito a brinquedos, figurinhas e fantasias, tudo isso antes dos consagrados “Star Wars” e “Star Trek”. Em 2001, a 20th Century Fox enfim tirou do papel o projeto de refilmar o clássico original. Sob a batuta de Tim Burton, o remake teve poucos elogios, grande parte na área técnica e de maquiagem, onde todos já imaginavam que o diretor não teria problemas. Com tantos talentos envolvidos e a tecnologia permitindo expressar as emoções dos macacos, o projeto conseguiu ser mais sombrio e assustador, mas a falta de profundidade do roteiro e ausência de coesão narrativa (como o final, por exemplo), entre outros problemas, fizeram o filme ser rapidamente esquecido e irrelevante.
Em 2011, entretanto, a Fox acertou. Planeta dos Macacos: A Origem, surgiu como um sopro de ar fresco nesta franquia que resistiu ao longo do tempo mesmo tendo a reputação um pouco abalada por conta de seu último filme. O diretor “novato” Rupert Wyatt ficou responsável por realizar não uma releitura dos filmes anteriores, mas para dar uma base sólida e plausível em tudo o que havia acontecido antes dos macacos dominarem nosso planeta. Contando com o carismático James Franco como protagonista e o expressivo ator Andy Serkis (o Gollum, de O Senhor dos Anéis e também o King Kong (2005), ambos de Peter Jackson) como César, mesmo economizando nas cenas de ação, a combinação de efeitos especiais impecáveis com uma trama envolvente, buscando desenvolver o avanço intelectual e cognitivo dos símios, de forma ao mesmo tempo divertida e inteligente e fazendo com que os fãs e críticos em geral concordassem: este era o renascimento que a franquia precisava!
Pois bem, chegamos a um ponto da história onde os macacos se revoltaram contra os homens e fugiram para a selva, sob o comando de César, símio superior criado e educado por seres humanos e dotado de inteligência e liderança altíssimas, mas decepcionado com a crueldade do homem. Em Planeta dos Macacos: O Confronto, um vírus símio devastador aniquilou boa parte da população mundial. Apenas poucos sobreviventes – pessoas geneticamente resistentes ao vírus – restaram, e buscam recursos no planeta abandonado e destruído para subsistir e conseguir contato com outros seres humanos. Os humanos, debilitados, formam uma primitiva colônia, mas paradoxalmente a isso, uma geração de macacos intelectuais e superiores vai se expandindo e ascendendo sua espécie como a raça dominante do mundo atual, cultivando valores como família, ética e moralidade.
O slogan do filme retrata exatamente o que o espectador presenciará na tela: “Uma última chance para a paz”. Contando mais uma vez com um diretor diferente, desta vez o promissor Matt Reeves (“Cloverfield, o Monstro” e “Deixe-me Entrar”), que comanda uma história carregada de “sub-tramas”, como drama familiar e intriga política bem equilibrados, somados a conflitos, eu diria até poéticos, como reis, traições, diplomacias, interesses, etc.
Partindo do princípio que o espectador “confie” na premissa, com toda a questão do vírus e do rápido desenvolvimento moral e de sociedade dos primatas, o filme só cresce em emoção e tensão. A cada cena há uma certa carga emocional e reflexiva embutida, que nos fazem perceber que cada espécie tem sua parcela de razão e de culpa, gerando simpatia e remorso dos dois lados. A proposta do filme em tentar agradar a todos os gostos é inteligente por transitar do sentimentalismo da primeira parte para a ação em massa no confronto final, e assim prender a atenção do público, mas de forma perspicaz e ferozmente empenhado na sua premissa, sempre deixando um sabor amargo intrigante de tensão no ar.
Planeta dos Macacos: O Confronto conta com um bom elenco e com boas atuações, com destaque para Malcolm (Jason Clarke) e Koba (Toby Kebbell), mas quem se sobressai mesmo é novamente César (Andy Serkis, mais uma vez muito intenso e expressivo). É possível que seja indicado ao Oscar de Efeitos Especiais assim como seu antecessor. Bom, a guerra era inevitável e já sabíamos disto, afinal o filme é uma sequência de um “prelúdio” (filme que contém elementos passados e é feito para explicar o que ocorreu “antes” de alguma história), portanto, o final em aberto só nos faz aguardar ansiosamente o próximo capítulo desta trama que, felizmente desta vez, deixou orgulhosos os produtores e criadores do Planeta dos Macacos original. Com engenhosidade e capacidade emocional no mesmo nível de seus ótimos efeitos especiais, expande e supera o seu antecessor, mostrando que é possível ser comercial e consistente, o mesmo que a franquia "Batman" havia feito com sua nova trilogia.