Com uma fotografia sensacional, mas não apenas sensacional, DESLUMBRANTE, MARAVILHOSA e ESPLÊNDIDA, eu diria que Ben Stiller conseguiu trazer aqui um daqueles raríssimos casos em que o remake supera, e com folgas, o filme original. Foi bom constatar como ele evoluiu como diretor também. De longe, seu filme mais perfeitinho no que concerne a ele como cineasta, e de longe também, é isso que dá o tom e separa Walter Mitty de "O Homem de 8 Vidas".
Tive a impressão que Steve Conrad, o roteirista do film, queria apenas usar o mesmo nome do personagem e a premissa inicial pra criar uma história divertida e misteriosa. Até porque os momentos menos bons do filme são aqueles em que o protagonista está 'fora do ar', e o mais curioso é que esses momentos são bem poucos, como se fosse inserido no filme apenas pra suprir a cota crucial para classificá-lo como uma refilmagem. Não à toa, em certo ponto da história, as viagens psicológicas de Walter Mitty simplesmente param de aparecer, pra dar lugar à nova história pela qual esse protagonista tem que passar.
A história, aliás, é até boba. Meio banal, meio clichê, fala sobre um homem que está apaixonado pela colega de trabalho, tenta conquistá-la via um site de namoros que sabe que ela está cadastrada, e, em meio a isso, tem que ir atrás de um negativo específico (o de número 25, tirado pelo fotógrafo e dono da Revista para qual ele trabalha), pra dar ao seu chefe a última capa da publicação, que a partir dali iria deixar de ser impressa e virar um site. Imaginando que o negativo ainda está com o fotógrafo aventureiro, ele percorre por diversos lugares do planeta (Islândia, Afeganistão, etc) tentando encontrá-lo e manter o seu emprego.
Num filme com uma história dessas, ficaria difícil não fugir da realidade. E ele foge, muito. Além disso, toma algumas liberdades que podem até ser classificadas como furos de roteiro. Mas, o que torna A Vida Secreta de Walter Mitty especial mesmo, e nunca tira o encanto de ver aquelas lindas imagens, e acompanhar a trajetória do "sonhador" é o trabalho de direção de Ben Stiller. Desde a direção-de-arte, enquadramentos, o estilo usado por ele na composição da mise-en-scene, até a fotografia, repito, deslumbrante, o filme é absolutamente impecável. Diria até que, se fosse dirigido de uma forma mais simples seria um filme sacal.
Da mesma forma com que o cuidado de transpôr o universo em que Walter Mitty vive foi bem pensado, existem algumas sutilezas como por exemplo o uso do vermelho, que em quase todas as passagens do filme está presente aqui e ali, de uma forma bem sutil para que o espectador mais atento perceba. É tão dedicada a direção do filme, que o faz ser melhor. E é um daqueles raros exemplos de longas que, são bons, não exatamente por causa do roteiro ou do argumento em que se baseiam, mas sim, por causa do trabalho do diretor. Vale falar também, da trilha-sonora, que simplesmente gera os melhores momentos do filme - como a cena que acontece antes do helicóptero.
PS: a virada final é um dos pontos altos do filme, e demonstra um cuidado na elaboração da história, já que remonta toda a caçada de Walter Mitty pela imagem 25. Nela, temos aquele 'insight' de boas histórias de mistério como bem diz Cheryl se referindo às fotos do barco e do dedo, em certo momento do filme. "Ah, sim... a carteira, como não pensei nisso antes?". É, de certa forma, até uma pegadinha. Com o personagem e com quem tá assistindo. Muito bom.