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    Fruitvale Station - A Última Parada
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Fruitvale Station - A Última Parada

    Cidadão do mundo

    por Francisco Russo

    Infelizmente, Fruitvale Station - A Última Parada é um filme familiar. Em boa parte dos países do mundo ocidental, até mesmo naqueles antigamente chamados de primeiro mundo – hoje o termo caiu em desuso – é possível encontrar histórias parecidas com a vivida por Oscar Grant, um jovem de 22 anos, pai de uma criança a qual não tem condições de sustentar por ter perdido o emprego recentemente. Entretanto, não pense que esta é mais uma história que descamba para o velho clichê da desonestidade. Um dos grandes méritos do filme é mostrar a vida como ela, com conquistas e mazelas, ressaltando que nenhum ser humano é completamente bom ou ruim. Ou seja, sem apelar para os tradicionais estereótipos que tantas vezes tornam mais fácil contar uma história.

    Entretanto, por mais que o filme fuja deles, os estereótipos às vezes seguem a vida cotidiana. Especialmente quando se é de origem pobre e tem pele negra, e é neste ponto que Oscar Grant se torna um cidadão do mundo. Pois, em meio às 24 horas acompanhadas em cena, as situações pelas quais passa não são características específicas dos Estados Unidos. No Brasil, país que tenta esconder o racismo embaixo do tapete, acontece o mesmo dia após dia. Não foi à toa que, em plena sessão no Festival do Rio, um espectador gritou “Amarildo!” ao término do filme. Sim, o preconceito e a injustiça sofridas pelo pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido após ser abordado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, são bem parecidas com as retratadas em cena. Triste retrato do mundo globalizado.

    Diante disto, o grande mérito do diretor estreante Ryan Coogler é dar a Fruitvale Station o ar de cotidiano, de vida real. A abordagem documental, com muita câmera na mão, atende a este intento. Cabe ao espectador acompanhar os eventos da vida de Oscar sabendo, de antemão, que aquilo não vai terminar bem – algo anunciado logo no início do filme, com cenas captadas por câmeras de celular no momento em que o desfecho aconteceu, em 2008. Por mais que seja esperada, a tragédia vem de forma brutal e traz consigo uma boa dose de revolta – pelo que acontece e pela imediata identificação com a vida à sua volta.

    Fruitvale Station é um filme necessário, para sentir e refletir. Muito longe de qualquer entretenimento vazio e pirotécnico, aqui o que importa é a constatação (e conscientização) do mundo em que vivemos. Um belo e doloroso filme, muito bem dirigido e roteirizado, que conta ainda com o brilho de dois atores: Michael B. Jordan, intérprete de Oscar, e Octavia Spencer, mãe do personagem principal. Por este filme ela merecia levar o Oscar de melhor atriz coadjuvante para casa.

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