Uma história universal
por Francisco RussoA história mostrada em Depois de Lúcia acontece no México, mas poderia ser em qualquer lugar. O caráter universal deste drama familiar é uma das principais características do filme e um dos motivos dele ser tão facilmente reconhecível pelo espectador. Afinal de contas, o ambiente que propicia o bullying é relativamente parecido em todos os países, descontando os óbvios traços culturais locais. Esta facilidade de identificação faz com que Depois de Lúcia torne-se um filme cuja história poderia, facilmente, acontecer com algum dos seus conhecidos, o que acaba tornando-o ainda mais impactante.
A trama parte da chegada de Roberto (Hernán Mendoza) e sua filha Alejandra (Tessa Ia) à Cidade do México. Ambos ainda estão sob o choque da perda de Lúcia, esposa dele e mãe dela. Apesar da tristeza inevitável, eles tentam seguir em frente. Novata no colégio, Alejandra logo se enturma com os colegas de classe. Entretanto, após uma festa em que tem relações sexuais com um deles, tudo muda. Como o ato foi gravado pelo celular, Alejandra logo ganha má fama na escola e passa a ser maltratada por todos. Envergonhada, ela esconde tudo o que acontece do pai, que nota as mudanças na filha sem entender direito o porquê.
O grande mérito do diretor Michel Franco foi conduzir a história de forma a torná-la o mais verossímil possível. Seguindo os elementos básicos do bullying – a covardia de quem pratica, a vergonha de quem sofre -, o roteiro aposta num crescendo de absurdos que, cada vez mais, impressiona o espectador.
Tanto pelos eventos em si como pela frieza e crueldade com que os abusos são praticados. Neste ponto, chama também a atenção a paralisia da garota, que a tudo aceita como se assumisse ser merecedora de tamanho "castigo".
Depois de Lúcia é um filme que surpreende rumo a um clímax que é um verdadeiro soco no estômago, apesar de ser, de certa forma, redentor. Um filme simples, bem dirigido e atuado, cujo maior mérito é a qualidade do roteiro. Muito bom.