Ambição, um crime sem razão
Sabe aquela sensação de que você não deveria ter seguido certo caminho? Você até tem a noção de que ele é perigoso, sinuoso, estreito e um tanto proibido, mas sua ganância e sua ambição fala mais alto e você escolhe essa rota torta. Esse é o mote do filme “Aposta Máxima”, de Brad Furman, que traz Justin Timberlake e Ben Affleck no elenco principal. Tudo começa quando Richie Furst, personagem de Timberlake – que já provou ser um bom ator desde “Alpha Dog”, “A Rede Social” e “Curvas da Vida” –, tem problemas para pagar o mestrado e entra no mundo das apostas online para ganhar um dinheiro extra. Seu esquema é descoberto e, então, ele arrisca tudo o que tem no maior portal de apostas na internet. Por ironia do destino e uma “falha no sistema”, Richie perde tudo e vai atrás do dono do site, o rei da jogatina Ivan Block (Ben Affleck), na Costa Rica. A partir daí, o jovem se envolve no mundo perigoso e exótico de dinheiro, festas, mulheres e promessas que o magnata dos jogos online oferece. Nesse exemplo do roteiro do longa, que é baseado numa história verídica, uma vez no mundo do crime e fora da lei, não tem mais saída, não há espaço para o arrependimento. É entrar de cabeça e esperar pela vida curta.
O filme não é tão bom assim para render uma coluna cheia de elogios. Na verdade, ele é bem médio. Além de Timberlake, Ben Affleck demonstra ser um vilão bem caricato, frio e enojado; e isso, pra mim, já valeu o ingresso. Fui ao cinema pelo cantor e pelo novo Batman mesmo! Agora, essa ideia de que o realmente errado e criminoso acontece muito mais nos países latinos, que histórias com cassinos e apostas mirabolantes ainda vingam e que essas corridinhas tipo gato e rato ainda fazem sucesso, isso tudo já deu. Não me pega mais, nem a muitos amantes do cinema. Eu quis tocar nesse assunto mesmo só porque, em certo momento do filme, fiquei com dó do protagonista. Volto ao momento inicial desse texto: quantas vezes você já não ficou arrependido de entrar numa fria e só percebeu que não tinha mais volta depois que já tinha mergulhado nas águas profundas?
Desde o menininho da favela que entra na tentadora vida do tráfico ao político corrupto que começa a receber altas propinas, para vender sua alma, deve-se estar disposto a pagar um preço absurdo logo ali na frente. Não adianta chorar, implorar, pedir arrego ou espernear. Caiu na lama? Então vai ter que abusar do alvejante, meter a barriga no tanque e limpar toda a sujeira que fez.
É esse sentimento que teríamos que ter dentro de nós, inerente às nossas atitudes no meio em que vivemos. Tive pena do protagonista do filme porque ele caiu numa cilada. Mas foi ele que resolveu arriscar e ganhar dinheiro pela forma mais ágil, fácil e proibida. Temos a mania de esquecer o que o outro fez de errado e nos solidarizar pela carinha de anjo demonstrada no fim. Não dá pra acreditar, mas, na época do julgamento do goleiro Bruno, acusado de matar cruelmente sua amante Eliza Samudio, inacreditáveis mulheres não engoliram o choro e apoiaram o assassino, dizendo que ele estava arrependido e deveria ter uma nova chance.
Sim, todos nós devemos ter uma segunda chance. Mas, uma vez que entrou no jogo, vai ter que dar a cartada final. Nem que essa seja uma jogada mortal. Você tem a opção na palma da mão e na pureza de um escondido e iluminado coração... É só não seguir esses tais caminhos da ambição.