Woody Allen nunca foi dos meus diretores favoritos. Sim, ele já fez filmes excepcionais, é um ícone do cinema mundial com sua narrativa bem peculiar e inconfundível, sem contar que no auge dos seus 77 anos ainda está na ativa produzindo bastante coisa. Mas convenhamos, Allen já fez muitos filmes ruins. Contudo, o que importa aqui é a minha visão do filme, e não o que penso do diretor, então vamos lá. Blue Jasmine parece que foi criado para Cate Blanchett brilhar. A atriz está espetacular no papel principal (como já era de se esperar). Sua composição de uma dondoca metida e milhardária é irretocável, pois combina perfeitamente com toda a elegância e garbosidade que a bela atriz carrega consigo. Ela é casada com um magnata charlatão (o competente Alec Baldwin) que roubou milhares de pessoas e que acaba sendo preso, fazendo com que Jasmine, ou poderia também dizer Jeanette, tenha que trocar suas viagens à Europa e vida de hostess na high society nova-iorquina por uma moradia conjunta a sua irmã adotiva Ginger (Sally Hawkins, excelente) e dois sobrinhos malcriados num muquifo em São Francisco. Daí parte a premissa inteligentíssima de um filme que é um drama complexo sobre uma mulher instável que está passando por uma crise de nervos e um choque de mundos, mesclado com o bom humor ácido característico de Woody Allen, que embora arranque algumas risadas, nunca perde a amargura e a dureza. Trata-se de um filme que prende a atenção do início ao fim, que tem diálogos bem inspirados e um elenco excepcional. Apesar de ter percebido que várias pessoas na sala de cinema não gostaram do final do filme, eu achei plenamente coerente e interessante o fim aberto dado pelo cineasta. Acho que o que realmente não me agradou no filme é algo que não é a primeira vez que noto nos filmes dele. A protagonista é muito bem trabalhada em todos os aspectos de sua criação, mas os personagens secundários, mesmo a cargo de atores excelentes, me parecem mal desenvolvidos, vide o personagem do ótimo Peter Sarsgaard, como o principal alvo de redenção de Jasmine, mas que poderia ter sido muito melhor trabalhado, para citar somente um exemplo. Mas fora isso, o filme é um belo exemplar da filmografia do renomado diretor, que pode não ter feito um filme perfeito, mas que faz uma profunda análise comportamental da sociedade americana, com um forte tom de desilusão e desesperança, mesmo carregando um humor sarcástico e seco, que incomoda, mas faz refletir sobre a fragilidade dos seres humanos e a incansável busca por algo que lhes dê um verdadeiro motivo para continuar.