Em tempo de premiações, chamam a atenção, os cartazes de muitos filmes apontando vencedores e indicações à prêmios. É claro que no caso de “Trapaça”, isso não foge a regra. 10 indicações ao Oscar, é algo que realmente impressionante para qualquer filme, principalmente por ele estar concorrendo em categorias de peso, como melhor filme, diretor, ator e atriz. Pois bem, então já podemos ver no cinema, o melhor filme do ano ?
A resposta é não. Apesar do número de premiações e indicações, bem como a enorme quantidade de elogios, é até simples, entender porque o filme é apontado como, o perfeito retrato da discrepância entre público e críticos. O Oscar, o maior prêmio que um filme pode receber, tem uma tradição em superestimar certos filmes, que nem sempre são tão brilhantes quanto parecem. “Trapaça” se encaixa perfeitamente nessa situação. O diretor David O. Russell, mais uma vez apresenta um bom filme, que de certa forma ganha status de “novo clássico” para a academia.
Já o público mais sensato, tendo em mente os filmes anteriores de Russel, e em especial, “O Vencedor”, vai perceber que esse é o seu trabalho mais simples e menos autoral. Ainda que siga um ritmo muito parecido com “O Lobo de Wall Street”, seu principal concorrente (já que tratam de temas similares: ascensão e declínio), não existe uma definição ao certo se o filme é um drama, um suspense ou uma comédia, prejudicante um pouco, à sintonia entre público e filme. Em certos momentos, o filme adota um estilo parecido com “Três Reis”, (também de Russell) principalmente no que tange a comédia, com os atores coadjuvantes prevalecendo em relação aos principais e um excelente trabalho de edição. Porém, são lampejos dentro de um filme, diferentemente do filme de Scorsese, que se mantém numa unidade só.
O principal problema, fica então, por conta do roteiro, que emula situações pouco críveis, imaginando que pode se manter à par da realidade e mesmo assim, se estabelecer no plano de adaptação cinematográfica, baseada em fatos concretos. A história é simples, o vigarista Irving Rosenfeld (Christian Bale), junto com sua parceira e amante, Sydney Prosser (Amy Adams), são recrutados e forçados a trabalhar para um agente do FBI, Richie DiMaso (Bradley Cooper), que os utiliza para pegar agentes do poder, tal como prefeito de Nova Jérsei, Carmine Polito (Jeremu Renner). Porém, toda a operação pode ir por água abaixo, se Irving, não controlar sua instável esposa, Rosalyn (Jennifer Lawrence).
Primeiramente, durante todo primeiro ato, a trama ganha um ritmo alucinante, demonstrando a ligação de Irving e Sydney e o surgimento de Richie, formando assim, um triângulo amoroso (tal como em “O Lado Bom da Vida”). É então no segundo ato, que começam alguns problemas. Ao serem “recrutados” para trabalhar com o FBI, são deixadas de lado, questões mais complexas como: o que aconteceu com o “negócio” anterior de Irving; como ele fazia para se sustentar, já que não recebia nenhuma contribuição pelo seu “trabalho”; e a mais crucial de todas, como ele e Sydney planejaram e imaginaram todos os cenários possíveis, antes de protagonizarem às reviravoltas do filme?
O terceiro ato, por fim, demonstra que o filme se sustenta pelas atuações (soberbas, diga-se de passagem) de seu elenco. Se tudo não passava de uma trapaça, os únicos momentos de sinceridade e credibilidade dos personagens, são aqueles protagonizados no final. Porém, nada sustenta com força, todas as surpresas do roteiro, tirando assim, o impacto da mensagem passada pelo filme. É uma pena que todo trabalho de elenco, acabe perdendo sua força, porque foram tomadas saídas mais fáceis.
É nesse ponto em que voltamos à discussão. Será que “Trapaça” foi superestimado ? Acho que a resposta é não. O filme funciona porque não mira um público só, ele se atrela à questões técnicas e emocionais, para conseguir uma ligação com o público (e crítica). E isso não se limita às excelentes atuações, temos também, uma ótima direção de arte, trilha sonora inspiradíssima, edição quase que perfeita e um figurino realmente estarrecedor (em especial, por causa da beleza de Adams e Lawrence). Mas como foi dito, não vermos uma unidade na tela e sim, aspectos individuais que juntos, criam um bom filme.
Se ganhar alguns Oscars, vai ficar claro que a academia olhou o filme como um amontoado de ótimos aspectos individuais, que não funcionaram tão bem assim juntos. Talvez, esse seja o motivo, da discrepância entre a opinião pública e a especializada. Cinema também é emoção, e o Oscar, nem sempre leva isso em conta, priorizando o aspecto técnico, em detrimento do impacto causado pelo filme. A pergunta certa, não é se o Oscar esta certo ou não, e sim, o que para você, realmente importa ?